São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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É só São Bernardo?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Se a manifestação contra a recessão realizada quinta-feira em São Bernardo do Campo tivesse sido marcada para outra cidade, alcançaria idêntico volume?
Suspeito que a resposta a essa pergunta determinará boa parte da temperatura política e, em certa medida, também da econômica daqui até o final do ano.
Se a resposta for sim, em qualquer lugar haveria um número importante de manifestantes, o governo que se prepare para passar maus momentos.
Primeiro, porque seria um sinal inequívoco de uma rápida deterioração de sua popularidade justo no momento em que se prepara para tentar as reformas mais polêmicas, porque mexem mais diretamente com o cotidiano das pessoas.
Segundo, porque os políticos se dividem basicamente em dois grupos: 1) o dos que de fato sentem o pulsar das ruas e reagem em consequência; 2) o dos que fingem que estão ouvindo as famosas ``bases", mas apenas como pretexto para exigir mais concessões do governo.
Como a inquietação impregna também setores do empresariado, as pressões sobre o governo seriam ainda mais acentuadas.
Em contrapartida, se a resposta for a de que só em São Bernardo se faria uma manifestação de tal porte, o governo ainda terá mais algum tempo de relativa tranquilidade pela frente.
Seria bom, em todo o caso, grafar em maiúsculas a palavra relativa. O episódio do Banco Econômico de certa forma trincou o halo invisível que flutuava sobre a cabeça do presidente da República, como costuma acontecer com todo chefe de governo recém-saído do banho purificador das urnas.
Ainda assim, mantendo-se a inflação no patamar relativamente baixo em que se encontra, a situação do governo permanece confortável. Estabilidade passou a ser um valor em si mesmo. Só quando a intuição coletiva for a de que ela está garantida é que se passa a cobrar todo o resto.
Em tempo: não sei a resposta para a pergunta que abre o texto, até porque já disse que não entendo o tal de povo brasileiro.

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