São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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sobre a depreciação do dólar

COSETTE ALVES

Quando começou o Plano Real, Gustavo Franco foi a favor da desvalorização do dólar em relação ao real. Ele mesmo explica por que:
"Quando o plano começou, em julho, a nova política cambial garantiu uma mudança de paradigma no setor externo. Antes, havia várias coisas já obsoletas do ponto de vista conceitual. Uma delas: a idéia de auto-suficiência (em que o ideal é que o país não precise importar nada). O Brasil não tem que ser auto-suficiente em coisa nenhuma, isso não é conversa de Escola Superior de Guerra, não de gente que pensa a economia a sério.
"Vínhamos perseguindo a auto-suficiência. Tínhamos importações iguais a 4%, 5% do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos produtos e serviços criados no país), o que é um escândalo para uma economia como a brasileira, está errado. Ao mesmo tempo em que o nível de importação era minúsculo, as exportações não eram nada brilhantes.
"Era, talvez, o terceiro ou o quarto maior superávit comercial (quando as exportações superam as importações) do mundo. E superávit comercial não é nada do que se orgulhar, é uma distorção que tem custos sociais (para pagar os exportadores, o país tem que emitir reais em troca dos dólares gerados pelas exportações, o que gera inflação). O paradigma estava errado. Ter megasuperávit com um comércio tão pequeno, esforço de auto-suficiência, câmbio sobredesvalorizado, em economia fechada: tudo errado.
"O que se faz para ter uma economia com mais corrente de comércio, sem megasuperávit, sem câmbio desvalorizado e fazendo com que o setor externo aumente a competitividade local? Primeira coisa: desindexar a taxa de câmbio, deixá-la fixada de acordo com o mercado. Foi uma revolução. Há vantagens em agir subitamente: noções longamente aceitas são desmistificadas.
"No caso, verificou-se que eram absoluta falsidade: defasagem cambial, megasuperávit, auto-suficiência. Tudo isso, subitamente, pareceu tolo diante do fato de que essas coisas serviam para manter uma indústria não-competitiva, que maltratava o consumidor. Por que a ênfase no produtor em detrimento do consumidor?"

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