São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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Argentinização?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O Brasil parece encaminhar-se para uma situação ``argentina": crescimento econômico combinado com aumento também do desemprego.
Não adianta argumentar que no mundo inteiro é assim. Não é. O que há, no resto do mundo, é um crescimento do emprego bem inferior ao crescimento econômico. Mas, se a economia cresce, o emprego também cresce ou, no mínimo, a taxa de desemprego se estabiliza.
Já na Argentina a economia cresceu 34% desde o plano de estabilização de 1991, mas o desemprego quase triplicou no período.
Fenômeno parecido ao do Brasil. Aqui, a economia aqueceu-se ao extremo no início do real e só recentemente entrou em desaceleração. Mas o emprego, pelo menos o industrial, simplesmente encolheu.
Suspeito que a explicação, cá como lá, esteja na abertura da economia. Importar gera menos empregos do que produzir localmente, como é óbvio. Não adianta também condenar a abertura em si. É inevitável, goste-se ou não dela. O problema é encontrar respostas para o desemprego.
O pior que poderia ocorrer seria o governo fechar os olhos e confiar na repetição aqui do fenômeno eleitoral argentino. Lá, o presidente Carlos Menem se reelegeu apesar do desemprego elevado.
Mas atenção para dois aspectos fundamentais:
1 - A Argentina passou por duas hiperinflações, o que dá à estabilidade um valor incomparável. Aceita-se qualquer coisa contanto que não se tenha que viver outro inferno hiperinflacionário. No Brasil não se chegou a tanto.
2 - Um presidente como Menem que derruba a inflação para 4% anuais (índice de país desenvolvido) e ainda promove um crescimento de 34% em quatro anos deveria levar, nas urnas, entre 70% e 80% dos votos. No entanto, Menem nem chegou aos 50%, se computada a abstenção.
Motivo: o mal-estar profundo causado pelo problema do desemprego.
Não parece que um país socialmente frágil como o Brasil possa se dar ao luxo de acrescentar aos problemas sociais crônicos uma taxa alta ou mesmo média de desemprego.

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