São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Dinossauros do rock abrem novo museu

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Foi como se o Museu Britânico passasse por uma ampliação como a do Louvre e no dia da inauguração do seu novo prédio futurista, as múmias de Tutankamon e Amenofis Terceiro discursassem para os visitantes.
Na madrugada de sábado para domingo, os objetos do Museu do Rock and Roll fizeram o show de inauguração da nova casa cutural de Cleveland, Ohio.
É curioso que Cleveland, meio-oeste dos EUA, tenha sido escolhida como sede do templo do rock. Como se São Paulo, "túmulo do samba", fizesse o Museu do Samba.
Nas décadas de 60 e 70, quando o rock corria selvagem pelos EUA, Cleveland, no madorrento Estado de Ohio, era considerada uma das cidades mais chatas do país.
Mas foi lá que o disc-jóquei Alan Freed (1922-1965) ficou famoso na rádio independente WJW com um programa de rythm and blue ousados.
O Museu do Rock custou U$ 92 milhões. Seu edifício foi concebido por I. M. Pei, um dos mais consagrados arquitetos do século (foi ele que fez o novo Louvre), que aos 78 anos diz nunca ter gostado de rock.
Dentro do magnífico edifício, às margens do imenso lago Erie, estão 100 mil objetos que pertenceram aos grandes artistas do rock.
As guitarras que Jimmy Hendrix destruiu em seus shows, é claro, não foram coletadas. Mas há duas de John Lennon (a Gibson acústica que ele usou para compor "Give Peace a Chance" é uma delas), uma de Chuck Berry, uma de Pete Towshend e até uma de Hendrix (uma Stratocaster de 1968).
Além de instrumentos musicais, há roupas, livros, discos, partituras dos grandes artistas do rock e posters, tickets, fotos de shows. É uma espécie de Hard Rock Cafe elevado à décima potência.
O ingresso de U$ 10,90 ainda dá ao visitante (espera-se um milhão deles nos próximos 362 dias) o direito de assistir centenas de filmes e vídeos, a maioria documentários feitos para o museu e alguns originais de performances clássicas de gente como Janis Joplin, Elvis Presley e Beatles.
Esses vídeos foram a melhor parte do show de quase oito horas que marcou a inauguração do museu mostrado pela rede de TV por cabo HBO. Dinossauros do rock como Bob Dylan, James Brown, Jerry Lee Lewis e Aretha Franklin não decepcionaram.
Mas as homenagens dos novos roqueiros aos seus ídolos foram, em geral, patéticas. Os Beatles foram particularmente maltratados por Jon Bon Jovi e Richie Sambora, o que pode ter provocado deleite ou desprezo em Yoko Ono, presente à cerimônia.

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