São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Selo com tiragem de 150 mil homenageia Louis Armstrong

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O lançamento de um selo com sua efígie este mês marca o início das homenagens à memória de Louis Armstrong no 25º aniversário de sua morte, no próximo dia 6 de julho.
Armstrong é o segundo músico popular norte-americano (o primeiro foi Elvis Presley, em 1993) a ter sua própria série filatélica. A primeira tiragem do selo tem 150 milhões de cópias.
A exposição "O Legado Cultural de Louis Armstrong" será apresentada pelo Instituto Smithsonian em Washington em 1996.
A nova geração de jazzistas, liderada pelo também trumpetista Wynton Marsalis, prepara espetáculos para recordar Armstrong.
Ninguém poderia ser mais diferente de Armstrong do que o cerebral, erudito e politizado Marsalis. As diferenças entre os dois realçam como o universo cultural norte-americano mudou neste século.
Se Armstrong fosse vivo e se comportasse hoje como na década de 30 ou 40, seria execrado por artistas como Marsalis, não só pelo primarismo de suas concepções artísticas como pela sua mímima noção de negritude.
Armstrong não via problema em representar os estereótipos do "negro de alma branca". Como ele mesmo dizia, seu único objetivo era "fazer as pessoas felizes", o que ele conseguiu, sem dúvida.
A maneira de cantar de Armstrong, com seu inglês carregado de sotaque negro, continha expressões de face e de corpo que reforçavam a imagem de sensualidade marota e um pouco cafajeste que se tinha dos negros.
Apesar, ou por causa, disso, Armstrong foi e continua sendo muito popular e 1996 vai referendar essa popularidade.
O aspecto de sua arte que Marsalis e outros músicos intelectuais vão ressaltar é que Armstrong revolucionou o jazz na década de 20 ao transformá-lo de música de conjunto em música de solistas.
Ele foi o primeiro a enfatizar improvisações inventivas. Além disso, ninguém mais do que ele ajudou a popularizar o jazz nos EUA e no mundo, graças à sua personalidade carismática e radiante de simpatia e bom humor.
O governo dos EUA o nomeou "embaixador da boa vontade", em outra demonstração que hoje seria classificada de instrumentalização do negro humilde para promover a dominação branca.
Apesar das restrições que alguns fazem, Armstrong foi maior do que elas.
Em seu tempo, talvez nem fosse possível ter sido diferente. O negro para ter chance de enriquecer tinha que se sujeitar ao que lhe fosse imposto. Mas, mesmo hoje, quem sabe, Armstrong teria sido igual. Ainda assim teria sido grande, como qualquer pessoa que o escute em "What a Wonderful World" ou "Hello Dolly" comprovará.
(CELS)

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