São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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"Cybersex multiplica experiências"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Cybersex multiplica experiências"
Folha - A globalização, acelerada pela tecnologia, não leva ao desaparecimento das diferenças?
Canevacci - Eu uso um conceito de "glocal", o global-local, que é um sincretismo entre a globalização e a localização. Este é um momento de extrema globalização de formas culturais, mas que não se homogeneizam, e ao mesmo tempo se localizam.
O processo de comunicação contemporânea é um processo no qual a tensão, o conflito, entre o local e o global é constante. O mesmo programa de TV pode ser visto na Índia, Alemanha, Estados Unidos, Japão, Itália e Brasil, mas as interpretações são diferentes.
O sincretismo é uma multiplicação do estilo de vida, cultural, comunicativo, corporal, que podem coexistir, no mesmo contexto. O sincretismo permite que tudo o que é o contrário de tudo possa ficar junto. O desafio do sincretismo e da cultura contemporânea é: o que é diferente é igual, não idêntico. O problema é dar a dignidade da igualdade ao que é diferente.
Folha - Como o sr. analisa o uso erótico da tecnologia, o cybersex?
Canevacci - Há o cybersex, com roupas apropriadas para reproduzir estímulos corporais. Esse equipamento ainda é muito caro. Mas, mesmo na Internet, é possível falar, explorar fantasias sexuais, e cada pessoa conectada à rede pode interferir na sua fantasia, sem saber quem você é.
As tecnologias oferecem a possibilidade de experimentar novos tipos de sensações. Uma voz que fala de coisas eróticas, pornográficas, no telesex para o qual você pode ligar a qualquer momento, é uma experiência na dimensão mais espiritual, entre aspas, é só uma voz, não tem corpo.
Folha - Isso não significa a desumanização da própria experiência erótica?
Canevacci - O medo normal é mais ou menos isso, desmaterialização, perda da experiência. Não acredito nisso, mas no contrário. Acredito que com as novas tecnologias é possível multiplicar as experiências, multiplicar as possibilidades de fazer sexo corporal, sexo "espiritual", cybersex, telesex, videosex, isso é multiplicação da experiência, não subtração.
A minha geração, quando descobriu a literatura e as fotografias eróticas, viveu um momento extraordinário, que não cortou a experiência, mas multiplicou. Era uma solicitação que depois poderia usar em experiências corporais. Acontece o mesmo agora com telefone, computador, cybersex.

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