São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Prepotência decadente

Dono de uma extensa lista de ilícitos que vai desde infrações menores como urinar em público até o tráfico de drogas, Gustavo Bulhões, filho do ex-governador de Alagoas, acaba de matar um homem.
Gustavo também já foi acusado, entre 92 e 93, de atirar contra seu irmão (não houve inquérito), de deixar uma mulher paralítica após atropelá-la e de tentar matar a tiros dois vigias de sua casa (ambos os processos estão em andamento).
O caso de Gustavo poderia ser classificado como o de um rapaz-problema, mas, sendo filho de quem é, enseja uma reflexão sobre o coronelismo no Brasil. É de se estranhar que, exibindo um tal histórico, Gustavo, mesmo condenado a seis anos por tráfico em 1994, tenha recebido o benefício da liberdade provisória mediante habeas corpus. A suspeita de interferência política na sentença é inafastável.
De outro lado, porém, é inquestionável o fato de que os coronéis vêm rapidamente perdendo o poder quase absoluto de que um dia gozaram. Hoje, quase restritos às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, vêem a cada dia sua força esmaecer-se. Apesar de ainda haver um longo caminho antes de sepultar de vez essa chaga da política, é preciso reconhecer que essa situação está mudando para melhor. Antes, o filho de um poderoso coronel de Alagoas não chegaria nem mesmo a ser levado à Justiça.
Para essa mudança tem contribuído o avanço dos meios de comunicação. Hoje quase não existem grotões incomunicáveis. Um telefonema é capaz de mobilizar a mídia para os desmandos de certas figuras. E, dessa responsabilidade, a mídia não pode abrir mão.

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