São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Briga de comadres

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Fernando Henrique gosta de dizer a seus ministros que o governo se comunica mal. Tem razão. O que não estava previsto é que o problema terminasse por contagiá-lo.
Depois de um primeiro semestre em que aprovou o que bem quis no Congresso, o governo está se enrolando. E o responsável é o presidente. No momento, ninguém entende muito bem o seu comportamento.
Tomado por um súbito complexo de culpa, Fernando Henrique mal disfarça o desconforto provocado pela companhia do PFL. Havia escassos dois meses, chamava o partido de "inteligente".
Saudoso, o presidente agora corteja a esquerda burra. Nenhum problema em que dialogue com a oposição. Bem ao contrário. Pode ser útil. Mas é preciso que convoque uma conversa pública, à luz do dia.
Ontem, voltou a tocar genericamente no tema. Em discurso no Planalto, disse estar aberto para o entendimento com a oposição. Muito bem. E daí? Ou chama os adversários e expõe suas idéias, ou é melhor que fique quieto.
Nunca se falou tão mal do PFL à volta do presidente como agora. A síndrome antipefelê atinge mesmo as pessoas que, na fase eleitoral, defenderam a aliança.
A recíproca é verdadeira. Não há encontro reservado de pefelistas que não se transforme em comício anti-FHC. Diz-se no partido que o presidente não controla os próprios ministros. Chamam-no de fraco.
No Planalto, diz-se que o presidente foi eleito justamente para consertar um país que o PFL estragou durante os últimos 30 anos. O ministro Sérgio Motta não está só. Sob reserva, o próprio presidente engrossa o coro, tão tardio quanto inútil.
Sabe-se que a choradeira não levará a nada. O governo é uma espécie de refém do PFL. Embora não goste, o presidente não desconhece o fato. Tem uma série de projetos para aprovar no Congresso e não dispõe de alternativas. Poderia recorrer ao PMDB. Mas o partido está esfarelado.
Em meio à crise existencial do presidente e ao canibalismo político que o cerca, há uma atmosfera de paralisia. O governo não consegue fazer suas reformas caminharem, eis a essência do problema.

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