São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Além da imaginação

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO-Não tenho procuração do meu amigo e mestre professor José Arthur Giannotti para defendê-lo da abjeta e gratuita agressão de que foi vítima por parte do senador Antônio Carlos Magalhães. De resto, sua corajosa defesa-denúncia, publicada à pág. 3 desta Folha no último domingo, é uma peça irretocável.
A reprodução do fax -envolvendo um lamentável episódio de um passado que já remonta a 15 anos e pelo qual Giannotti admite plenamente o erro- é necessária: "Comunico ao ilustre professor que recomendei aos membros da comissão, que representará o Senado na Conferência Mundial sobre a Mulher, que evite o tema 'Agressão às Mulheres', para que não surjam casos ocorridos no Brasil, particularmente em São Paulo. O senhor não terá nada a me agradecer com a providência adotada, pois visa também poupar pessoas amigas de ouvirem fatos que não merecem ser relembrados. Conte sempre com a minha benevolência. Atenciosamente, Antônio Carlos Magalhães".
A benevolência de Lúcifer ou de Belzebu teria sido preferível.
Enquanto se tratava de um documento pessoal enviado por um cidadão (ACM) a outro (Giannotti), toda a questão se resumia ao âmbito privado dos dois. Desde que Giannotti acertadamente decidiu tornar público o documento, o que está em jogo já não é mais a esfera privada de dois cidadãos, mas os métodos e práticas de um alto dignitário da República cujo decoro mínimo exigido deveria fazê-lo abrir mão de certos expedientes que não podem ser qualificados por outro nome que não o de chantagem.
São poucos os jornalistas que nunca ouviram falar de duas ou três histórias realmente escabrosas envolvendo ACM. Elas, contudo, não são publicadas nas páginas de jornais nem transitam pelas linhas de fax. De um país em que os milhares de jornalistas conseguem agir com um pouco mais de ética do que um dos mais altos membros da Câmara Alta, só se pode concluir que esta nação ou bem tem uma imprensa de Primeiro Mundo -hipótese que está bem longe de ser o caso- ou bem que alguns de seus políticos são bem mais desqualificados do que se poderia ousar imaginar.

Texto Anterior: Iniciativa privada no metrô
Próximo Texto: Suprema irracionalidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.