São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1995
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SP vai testar vacina contra Aids em 300 voluntários

LÚCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova candidata a vacina anti-Aids deve começar a ser testada em São Paulo em outubro. Os testes serão realizados em 300 voluntários no Complexo Hospitalar de Guarulhos (20 km de SP).
A Salk HIV-1 já está na fase final (três) dos exames. Isso significa que, se for comprovada a sua eficácia, o próximo passo será a comercialização. Ela já passou pelas fases 1 e 2 nos Estados Unidos.
Segundo Ricardo Veronesi, 70, coordenador dos testes no Brasil, nas duas fases iniciais a Salk HIV-1 obteve sucesso em 60% dos casos, ou seja, de cada 100 portadores do vírus que usaram a substância, 60 reduziram até 90% a quantidade de HIV no sangue.
A Salk HIV-1 será testada por portadores do vírus HIV que não tenham apresentado sintomas da doença. Eles não podem ter tomado drogas para prevenir o aparecimento da doença (AZT, DDI e DDT, por exemplo), ser maiores de 18 anos e, no caso das mulheres, não podem estar grávidas.
A candidata a vacina ativa o sistema de defesa, aumentando a resistência ao vírus. Ela é feita com HIV morto. Não há riscos de o voluntário piorar por causa do uso da substância, diz Veronesi.
Ao contrário das vacinas preventivas que imunizam o paciente, a Salk HIV-1 é uma vacina terapêutica, ou seja, ela facilita a cura de uma doença já existente.
O experimento vai durar cerca de 52 meses. Os voluntários serão divididos em dois grupos: metade vai tomar o Salk HIV-1, e a outra metade, apenas placebo (substância inócua).
A vacina é produzida pelo laboratório americano Immuno Response. Além do Brasil, voluntários da Argentina, Tailândia e EUA também vão testar a substância.
Esse é o segundo produto candidato a vacina em fase de teste no Brasil. A outra candidata, a V-108, está sendo usada no Rio e em Minas por 30 voluntários -nas fases 1 e 2.
Diferentemente da Salk HIV-1, a V-108 é uma vacina preventiva e é feita à base de um produto sintético que imita a estrutura do vírus. Todos os voluntários que estão sendo vacinados no Rio e em Minas não são portadores do vírus.
O programa está previsto para terminar em setembro de 1996.
Segundo o infectologista Antonio Carlos Toledo Jr., professor do Departamento da Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais, onde o V-108 é testado, "toda nova vacina testada é uma nova possibilidade de cura".
O Brasil é o 2º país no mundo com maior número de casos notificados da doença, perdendo só para os EUA. A estimativa é que cerca de 700 mil brasileiros estejam contaminados. Desses, cerca de 70 mil pessoas estariam doentes.

VOLUNTÁRIOS - Ainda é possível se inscrever para testar a vacina. Informações pelo tel. (011) 968-0966, r. 295.

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