São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1995
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Debate em reuniões gira em torno de palavras

SUZANA SINGER
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

As reuniões de negociação na conferência da mulher giram em torno de palavras e dariam farto material para teses de semiótica.
A Folha conseguiu assistir a uma das reuniões, que são abertas apenas às delegações oficiais. A pauta era a "Declaração de Pequim", a parte mais importante do documento da ONU, uma espécie de carta de intenções.
A presidente da reunião, mexicana, começa dizendo que há pouco tempo, pede que as intervenções sejam breves e afirma que não permitirá que sejam reabertos debates de trechos já aprovados.
No parágrafo 32, estão numeradas as barreiras que as mulheres enfrentam: idade, deficiência, raça e etnia. A frase aparece entre colchetes, o que significa que não há consenso entre os países.
O representante dos EUA pede a palavra e propõe tirar os colchetes, deixando o texto com está.
O Senegal, representando o Grupo dos 77 (países subdesenvolvidos), apóia. O Brasil faz uma intervenção infeliz e diz que aceita tirar a palavra "etnia", desde que a palavra "raça" seja mantida.
Cuba volta a defender que se deixe a frase. Ninguém argumenta. Quando parece que há consenso, o Canadá sugere que sejam incluídas mais barreiras na listagem: "idioma, cultura, religião e o fato de pertencer a povos indígenas".
O Grupo dos 77 concorda e a presidente diz que o texto será então modificado. Aplausos.
Israel pede a palavra, mas é interrompido pela União Européia, que reclama das mudanças feitas pelo Canadá e da forma como a negociação foi encaminhada.
Há vaias e a presidente diz que o assunto está encerrado. A essa altura, a reunião parece uma rodada do jogo War: Argentina contra EUA, Lesoto contra Marrocos, Paquistão contra Togo.
Depois de uma hora e meia, o cansaço é evidente. Várias delegadas tiram os sapatos, cochicham e tiram fotos para a posteridade.

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