São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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FHC aplaude protesto contra injustiça social

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUGES

O presidente Fernando Henrique Cardoso aplaudiu ontem manifestação de protesto contra as condições sociais do Brasil, promovida por ONGs (Organizações Não-Governamentais).
FHC deixava o Colégio da Europa, em Bruges (100 km a Noroeste de Bruxelas), quando trombou com a manifestação silenciosa, feita apenas de cartazes de protesto. "Basta de menores assassinados", dizia um. "Parem com os esquadrões da morte", era outro. E um terceiro: "Lugar de criança é na escola, lugar de assassino é na cadeia".
A cada cartaz pelo qual passava, o presidente dizia aos manifestantes: "Estou de acordo com tudo". E prometia: "Vamos acabar com isso".
Quando passou pelo pedido de "terra a quem a trabalha", a Folha perguntou: "O senhor concorda também com esse?". E FHC: "Se houver terra para todos...".
Ainda caminhando, disse aos jornalistas brasileiros que queria das ONGs a colaboração para resolver os problemas apontados e não apenas críticas.
A concordância com a manifestação combinava, de resto, com o tema que FHC abordara na sua palestra ao Colégio da Europa, uma instituição fundada em 1949 para estudos de pós-graduação.
FHC condenara 'à tolerância com a miséria, a marginalização e a pobreza", improvisando, sempre em francês, em cima do texto escrito. Disse ainda: "Não sei qual será a consequência, no futuro, da indiferença que existe, especialmente nos países mais desenvolvidos, com a marginalização".
A realidade brasileira já havia sido introduzida no programa presidencial na alocução inicial, feita pelo reitor do Colégio da Europa, Gabriel Fragnire.
Ele lembrou que o programa de renda mínima -uma obsessão do senador Eduardo Suplicy (PT-SP)- fora, pela primeira vez no mundo, adotado pela cidade de Bruges, quando era Estado independente, em 1526. Depois, Fragnire explicou à Folha que foi a primeira vez em que um poder público decidiu dar a cada cidadão o mínimo para a sua subsistência. Hoje, o programa não existe mais.
FHC pegou o mote para dizer que já anunciara no Brasil um programa similar, embora restrito a pessoas de mais de 70 anos e/ou com problemas de incapacidade física e mental.
Depois da palestra, enquanto conversava com o reitor, a Folha perguntou ao presidente se considerava possível generalizar o programa de renda mínima.
Disse que não, pois "o projeto aprovado pelo Senado dá de um lado e tira do outro". Explicou que, para atender algumas pessoas, o governo teria que tirar de outras, por falta de recursos.
Defendeu, na típica retórica de seu governo, um processo gradual de atendimento de carências. E lamentou que, no Brasil, mesmo programas pontuais se tornem gigantescas pelas dimensões da população. Deu o exemplo da distribuição de livros didáticos, que vai passar de 56 milhões de unidades para 106 milhões. "No Brasil, sempre se medem as necessidades em milhares de unidades, quando não em milhões", completou.

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