São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995 |
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Igreja Universal expande negócios e conquista adeptos em 39 países
CLÁUDIA TREVISAN
"A igreja é como uma bicicleta andando: se parar, cai". A frase, que costuma ser repetida pelo bispo Edir Macedo, traduz bem o espírito que move a Universal, fundada por ele há 18 anos. O crescimento da igreja esteve em evidência nas duas últimas semanas graças à minissérie "Decadência", da Rede Globo, que tem como personagem principal um pastor corrupto que enriquece à custa de seus fiéis. O poderio da Universal está baseado em dois pilares: o uso dos meios de comunicação e a arrecadação de recursos junto aos fiéis. A igreja não revela quanto recebe por ano. Informações obtidas pela Folha indicam um valor próximo de R$ 350 milhões. Mas o pastor Caio Fábio, presidente da Associação Evangélica Brasileira, e crítico de Macedo, acredita em números mais altos. Ele avalia que a Universal obtém, em média, R$ 200 em cada um dos cinco cultos que realiza por dia em seus 1.700 templos. A multiplicação dos números leva a R$ 612 milhões, só no Brasil. O plano de saúde da Universal será inicialmente destinado aos seus pastores. Mas, se tudo correr bem, em seis meses ele estará concorrendo no mercado. "Nós vamos quebrar o cartel dos planos de saúde", afirma o pastor Ronaldo Didini. Segundo ele, a intenção é fazer um plano acessível a pessoas de baixa renda. A TV a cabo que a Universal pretende criar será voltada exclusivamente a temas religiosos. A igreja já é proprietária da Rede Record de televisão, pela qual Macedo pagou US$ 45 milhões. O jornal popular é um projeto relativamente antigo, mas não há data para sua implementação. O objetivo inicial era lançá-lo em São Paulo. Mas a Folha apurou que o atrito com a Globo levou a direção da igreja a privilegiar o Rio, sede do jornal "O Globo", de Roberto Marinho. Desde 92, a Universal é dona do jornal "Hoje em Dia", de Minas Gerais. Ele foi comprado por US$ 20 milhões, junto com uma TV e uma rádio, do ex-governador de Minas Newton Cardoso. A igreja tem duas publicações oficiais no país: a "Folha Universal", com tiragem de cerca de 700 mil exemplares, e a revista "Mão Amiga" editada pela ABC (Associação Brasileira Cristã). A ABC foi criada pela Universal em outubro do ano passado para atuar na área social. Uma de suas ações principais é uma campanha contra a fome desenvolvida sob o slogan "Movimento Brasil 2000 - Futuro Sem Fome". A expansão empresarial é acompanhada da territorial. "Nossa intenção é pregar o Evangelho a todo o ser vivente", afirma o bispo Carlos Rodrigues, 38, responsável pela atuação na área política. A Universal já está instalada em 39 países (ver quadro). A partir de 96, pretende aumentar seus domínios na Ásia, a partir das Filipinas. E, em breve, pregará na Rússia. O crescimento na África é vertiginoso. Em Moçambique, a igreja chegou a batizar 3.000 pessoas de uma vez no mar. A Universal está em nove países africanos e prepara pastores na França para pregar nas nações de língua francesa do continente. A ampliação de suas frentes de atuação vai levando a igreja a ocupar áreas tradicionais do Estado. A ABC inaugurou há três meses um posto de saúde na zona sul de São Paulo em conjunto com a associação de moradores local. A meta principal é orientar a população sobre planejamento familiar e métodos anticoncepcionais. "Se o Estado não faz, nós faremos a nossa própria campanha de planejamento familiar", diz Didini, que preside a ABC. Texto Anterior: FHC aplaude protesto contra injustiça social Próximo Texto: Fiel pagou início no rádio Índice |
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