São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995 |
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Funcionamento segue lógica empresarial
FERNANDO MOLICA
Fonseca prepara dissertação sobre a igreja na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, o que determina essa lógica é: 1. Constante revezamento entre os pastores, que ficam, no máximo dois anos em cada templo. O objetivo é não criar vínculos entre eles e os fiéis. O importante é a Igreja Universal, não o pastor; 2. Busca de "produtividade" pelos pastores, medida pela frequência ao templo e "na manutenção dos dízimos e ofertas"; 3. Uso de mecanismos de promoção entre os pastores: os de melhor produtividade vão ascendendo na carreira e, aos poucos, deixam os templos menores para os mais importantes. Da mesma forma, os obreiros (pessoas que ajudam nos cultos) podem chegar a pastores. Segundo Fonseca, cada templo da Universal funciona como a filial de uma franquia, submetida à filosofia de gerência da matriz. A ausência de uma tradição -a igreja foi fundada em 1977- reforça, de acordo com o sociólogo e outros pesquisadores, essa adequação ao "mercado". Pesquisador do Iser (Instituto de Estudos Religiosos), André Mello afirma ter lido em uma publicação norte-americana declaração de um pastor da Universal que lamentava ainda não ter "descoberto" o que mais desejava o público de Nova York, onde a igreja tem templos. Entre outros motivos para o sucesso da Universal, Fonseca enumera algumas hipóteses: 1. Uso de linguagem e símbolos populares. Apesar da crítica às religiões afro-brasileiras acaba reconhecendo a existência de entidades como orixás e exus; 2. Adoção do que já foi chamado de "Teologia da Prosperidade", ou seja, o constante apelo ao progresso individual; 3. Menor exigência em relação a outras igrejas pentecostais de um comportamento moral rígido; 4. Uso da lógica da perseguição: a Universal procura angariar simpatias ao se dizer perseguida. André Mello também ressalta que a igreja -ao criar objetos como óleos santos, fitas e copos d'água e ao estimular "correntes de oração"- soube capitalizar elementos da religiosidade popular com os quais a Igreja Católica tinha dificuldades em lidar. Texto Anterior: Para intelectuais, novas igrejas são 'fast-food' da fé Próximo Texto: Eleição de 89 fez CIA olhar para evangélicos Índice |
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