São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Empregada doméstica diz que apanhou de pastor durante culto

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Ex-frequentadora de centro de umbanda e camdomblé, a empregada doméstica Cleide Aparecida dos Santos, 24, entrou na semana passada com uma queixa-crime contra um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, em Guarujá (SP). Ela acusa o pastor chamado Marcos de tê-la agredido em um culto.
A seguir, trechos da entrevista que ela deu à Agência Folha:

Agência Folha - Por quanto tempo você frequentou a Igreja Universal do Reino de Deus?
Cleide Aparecida dos Santos - Uns três meses.
Agência Folha - Antes você ia a outra igreja?
Aparecida - Nos últimos três anos fui a um centro de umbanda e candomblé. Foi o meu irmão que me convidou para a Universal.
Agência Folha - O que ocorreu durante o culto na Igreja Universal no último dia 6?
Aparecida - Um pastor, de nome Edgar, estava vendendo por R$ 50 uma fita para amarrar no pulso, uma fita abençoada por Jesus. Uma moça não tinha o dinheiro, mas queria dar o que tinha na bolsa, R$ 5.
O pastor disse que não podia vender por R$ 5. Disse que Jesus não gosta de esmola e que a fita só poderia ser vendida por R$ 50.
Agência Folha - E depois?
Aparecida - Eu reclamei com ele, afinal Jesus não precisa de dinheiro para abençoar ninguém. Disse que iria abandonar a igreja. O pastor Edgar chamou o pastor Marcos para fazer uma oração na minha cabeça. Só que, em vez de oração, ele começou a me agredir.
Agência Folha - Como foi?
Aparecida - Ele me segurou e me chutou nas pernas. Eu caí e ele me levantou pelos cabelos. Eu caía de novo, e ele me chutava na barriga. Aí ele agarrou o meu pescoço e começou a me sufocar. Eu me debatia, e ele gritava que eu estava com o demônio no corpo. Isso aconteceu por uns 30 minutos.
Saí da igreja, cheguei cheia de dores em casa e uma ambulância me levou ao hospital, onde tomei analgésicos. Nunca apanhei tanto.
Agência Folha - Antes você estava contente com a igreja?
Aparecida - Eu até gostava, mas comecei a ficar revoltada com os constantes pedidos de dinheiro. Eles não aceitavam menos de R$ 5. Eu ia até me batizar. Mas, depois de batizada, eu teria de dar 30% do salário (Aparecida ganha R$ 200 por mês como empregada doméstica em Santos).
Agência Folha - Você teme represálias por sua atitude?
Aparecida - Tenho medo. Eles falaram que, se eu deixasse a igreja, iria terminar meus dias numa cadeira de rodas.

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