São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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O desastre que foi evitado

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Volto à questão da inflação. Há 15 dias apresentei um quadro otimista sobre os números de agosto e fiz uma previsão ousada para setembro. Os números da Fipe da primeira quadrissemana de setembro e primeira prévia do IGP-M não só confirmam as previsões do departamento econômico do Banco Matrix, como mostram que os resultados para o mês fechado de setembro podem ser mais surpreendentes. O IGP-DI pode indicar uma deflação de 1%.
Mas o objeto central desta minha reflexão não é a inflação futura, mas a que ficou para trás. Analisando alguns dados levantados pelo Alfredo Barbuti, economista que trabalha comigo no Matrix, sobre a inflação desde outubro de 94, chegamos à conclusão de que estivemos perto de um desastre no Plano de Estabilização.
O "boom" de consumo verificado a partir do segundo semestre do ano passado colocou a inflação em rota de explosão. Medido em taxa anual, com exclusão de alimentos e combustíveis, o indicador de preços industriais aumentou 13% em novembro, 20% em dezembro, 26% em janeiro, 18% em fevereiro, 22% em março e 38% em abril. Uma nítida indicação de inflação de demanda.
Hoje, fica claro que foi a partir de abril de 95 que a política monetária restritiva do BC explodiu com a bolha de consumo. Este fato aparece em várias estatísticas da performance do comércio e da chamada absorção de produtos de consumo.
A mudança radical do consumidor, afogado em dívidas e com a renda comprometida por juros e aumento de preços de alguns itens importantes de seu orçamento doméstico, jogou a demanda para baixo. E a farra do aumento de preços da indústria terminou.
Em maio, o crescimento de nosso indicador de preços industriais caiu para 25% ao ano, número que se repetiu em junho. Em julho ele foi de 17% ao ano e, em agosto, despencou para 4,5% ao ano. Pelo andar da carruagem ele vai ser ainda menor em setembro.
Este mesmo comportamento do IPA industrial pode ser visto com clareza em seus diversos subgrupos setoriais. A partir de agora o governo pode respirar e recolocar a administração da política monetária em rota menos dramática.

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