São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palavra de mulher

A "plataforma de ação", formulada no fim da Quarta Conferência Mundial da Mulher em Pequim, traz um pouco do vício da generalidade excessiva, que quase inevitavelmente se faz presente em documentos internacionais destinados a expressar a grande diversidade cultural e política de seus signatários.
O texto final oscila entre quatro tendências: primeiro, limita-se a atender o bom senso, recomendando, por exemplo, ajuda financeira a países endividados.
Em outros trechos, avaliza iniciativas que bem ou mal já são adotadas em muitos países, e que não dizem respeito exclusivamente às mulheres, como a realização de programas de educação sexual com orientação e apoio dos pais.
A terceira característica marcante é a de fazer propostas impregnadas de um certo romantismo e de difícil execução, como a absorção da "tecnologia" e dos conhecimentos "médicos" dos quais as mulheres indígenas seriam portadoras e "proprietárias intelectuais", ou a recomendação aos governos para que seus ministros se orientem pelas diretrizes do encontro.
Por fim, o documento acerta ao mencionar problemas que se encontram na mais atualizada agenda política do genuíno feminismo: a imagem conservadora da mulher fomentada pelos meios de comunicação e a crescente violência praticada contra meninas sob as formas de exploração sexual, mutilação genital e seleção pré-natal por sexo. Daí a resolvê-los, porém, muito ainda há de ser feito, e não apenas escrito.

Texto Anterior: Nem atalho, nem mão única
Próximo Texto: O tempo não cicatriza
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.