São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995 |
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O tempo não cicatriza Em sua palestra a uma comissão especial do Parlamento Europeu, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o atual aumento do desemprego decorre do processo de modernização das empresas e que "é apenas questão de tempo" para que novas vagas sejam criadas em outros setores da economia. Ainda que a política de desaquecimento tenha inegavelmente estimulado as demissões dos últimos meses, deve-se reconhecer que o avanço tecnológico contribui por si mesmo para uma redução das oportunidades de emprego que parece irreversível. A afirmação otimista do presidente, portanto, contrapõe-se a tendências que vão além do sobe-e-desce conjuntural. O desemprego é hoje um problema em todo o mundo. E mesmo a experiência de estabilizações similares à brasileira mostra que a geração de emprego há muito deixou de ser "apenas questão de tempo". É eloquente o exemplo argentino, onde, apesar do sucesso da luta contra a inflação, o desemprego chegou a 18,6% em maio. Em face do novo dinamismo tecnológico -de consequências hoje quase imprevisíveis-, a estabilização dos preços, o crescimento da economia e as reformas de mercado podem ocorrer concomitantemente à elevação do desemprego. No México, ocorreu o mesmo. A criação de novas oportunidades de trabalho está entre os maiores desafios das sociedades contemporâneas, lado a lado com os investimentos na educação de uma nova força de trabalho. O tempo, no caso, em vez de cicatrizar, pode mesmo é abrir novas e mais profundas feridas. Texto Anterior: Palavra de mulher Próximo Texto: Aumento estranho Índice |
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