São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995 |
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Líder de Corumbiara ataca MST
GEORGE ALONSO
Para o ex-dirigente nacional do MST, o confronto de Corumbiara, em 9 de agosto último (morreram 10 sem-terra e dois PMs) virou uma nova referência do movimento sem-terra. Ele afirma que o MST "não abarca todos os sem-terra" e ironiza os rumores de que militantes do Sendero Luminoso (grupo guerrilheiro peruano) estariam agindo no Brasil. Folha - Você veio a São Paulo em busca de quê? Cícero Pereira Neto - Corumbiara foi uma luta regional. A luta pela reforma agrária é maior. Vamos criar o Comitê Corumbiara para exigir a expropriação da fazenda Santa Elina e a punição dos culpados pela chacina. Procurei a CUT e vou ao MST. Folha - Mas você é dissidente do MST e critica a entidade. Cícero - É preciso que a direção do MST entenda que a luta pela terra não é só do MST. Folha - Eles prejudicaram a ação de vocês em Rondônia? Cícero - O MST nos colocou como cúmplices do massacre. Os cúmplices foram os fazendeiros, o governo Raupp (PMDB), a PM e o juiz de Colorado. Folha - Por que você saiu do MST em 1992? Cícero - Divergimos (risos). Temos mais de 40 mil famílias de sem-terra em Rondônia. Temos de trabalhar essas famílias e fazer ocupações em massa, já. Folha - Por que agora? Cícero - Depois da Santa Elina, estouraram ocupações. Isso mostra que, nesse momento, é uma necessidade dos sem-terra e não só de uma entidade. Folha - O MST urbanizou seu discurso. Você concorda? Cícero - Sim. Só que os sem-terra têm de ocupar terras. Acho que nós temos de nos contrapor ao que o governo diz, de que "quem ocupa, não leva". É o contrário. Temos de fazer ocupações gigantescas e forçar os assentamentos. Folha - Há vários grupos surgindo fora do MST. O MST e a CUT estão agindo errado? Cícero - A CUT não. Nos apoiou desde o início. Precisamos dar respostas políticas às chamadas ocupações isoladas. A CUT entende isso. O MST precisa entender que há lutas que o movimento não está abarcando. Folha - Você defende a resistência armada? Cícero - Enquanto você pode resistir, você resiste. Acontece que lá nem pudemos negociar. O objetivo é a terra para trabalhar. Estão falando aí de Sendero Luminoso. Se você falar de Sendero lá, vão pensar que é alguma coisa pra comer. Folha - Você quer criar uma nova entidade nacional? Cícero - Quem somos nós (ri)? O grupo da Santa Elina está disposto, por hora, dentro da luta de classes, a ocupar terras. Folha - Então, vocês vão invadir outras fazendas? Cícero - Se preciso, ocupamos todas as fazendas de Rondônia. Enquanto tiver uma família sem terra em Rondônia, estaremos na luta. Com ou sem MST, que deveria representar os sem-terra. Folha - Você não tem medo de voltar a Corumbiara? Cícero - Minha cabeça vale R$ 50 mil, a mando dos fazendeiros, mas não deixo uma luta pela metade. Quando o MST disse que nós éramos radicais, só incentivou a chacina e deu força aos fazendeiros. Texto Anterior: Planejamento reduz a meta de assentamentos Próximo Texto: Poucos vivem sem a ajuda do governo Índice |
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