São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Mulheres esnobam sexo e relacionamentos

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Toda vez que alguém cobra de Xuxa um companheiro, ou fala de sexo, ela diz que homem é o que não falta, que tem fila, mas ela quer um namorado.
Xuxa é a solteira mais famosa, rica e bonita da praça, mas não é a única -várias mulheres lindas e bem-sucedidas escolheram a abstinência (inclusive aos sábados à noite, em festas, viajando etc.).
"Sinto falta de sentir falta de sexo", diz a relações públicas Lúcia Paes de Barros, 40, que ficou viúva há três anos. Ela teve um caso furtivo, logo após a morte do marido, com um sujeito que era "baixo, gordo, careca e homossexual", e, desde então, nada mais.
Alguém poderia argumentar que com um um tipo desse -que além de tudo não é muito fã do sexo oposto- fica difícil. Mas Lúcia diz que aparência não é tudo para ela. E rebate com a experiência do próprio casamento, que durou 12 anos, com um homem "boa pinta e que gostava muito de sexo".
"Eu tinha a maior dificuldade de acompanhar o pique dele. Muitas vezes, quando não estava disposta, ele me perguntava o que estava acontecendo e eu não tinha o que dizer. Sexo pode ser bom, mas ocasionalmente", diz (leia texto ao lado).
As mulheres que vivem bem sozinhas, como Lúcia, em geral acabam percebendo que não precisam dos homens nem para lhes passar uma cantada. "Minha energia está tão desconectada desse circuito, que eu simplesmente não reparo em investidas assim", diz a produtora Angela Dias, 34. Ela namorou sério durante dois anos, terminou há três, mas antes disso já possuía o que chama de "outra perspectiva".
"Nunca vivi em função de conquistas e sexo. Minhas ansiedades são outras", diz, referindo-se ao trabalho e às viagens de lazer. As amigas continuam arranjando namorados para Angela e se admirando com a história da mulher bonita que prefere estar só. "Me sinto a própria Sharon Stone equivocada", diverte-se.
Essas moças que ela chama de "desesperadas" costumam duvidar do seu desinteresse e perguntam como é que ela faz quando está com a "sena acumulada" (sem transar há muito tempo). Angela diz que o problema acaba se resolvendo do mesmo jeito, na cama. "Tenho sonhos eróticos maravilhosos. A natureza é divina."
Esperar da realidade uma história de sonho é um dos motivos que levam algumas mulheres a preferir estar sós. A joalheira Cristina Guerra, 39, por exemplo, gosta de "homens bonitos, inteligentes, mais novos (na faixa dos 30 anos) e que a tratem como uma princesa". "Se não for assim, prefiro ficar na minha casa", diz Cristina, que está sozinha há dois anos.
Dificuldade de arranjar alguém que faça o seu tipo não é bem o problema da psicanalista Adriana Raposo, 33, cinco anos sem fazer sexo. Ela diz que não tem tipo. Adriana troca qualquer promessa de romance por livros de história sobre a Idade Média, jogos de computador, barras de chocolate e coca-colas geladinhas. Detalhe: ela mede 1,67 m e tem 60 kg -não é gorda.
Fazer sexo, para ela, é trabalhoso. "Fico cansada só de pensar. Quando insisto e transo, sinto o meu sexo 'emborrachar', como se fosse de matéria sintética mesmo. É constrangedor e engraçado ao mesmo tempo."
Na cama, ela ouve tudo. Sua sensibilidade dobra. "O pior são os ruídos estranhos, gritinhos. Sem falar no 'depois'."
Adriana diz que não tem nenhum problema orgânico nem psicológico com sexo. "Simplesmente não o coloco entre as dez coisas mais fantásticas do mundo. Muita gente acha isso um absurdo, mas é porque as pessoas se sentem na obrigação de ter um interesse especial por sexo. Em alguns casos, falam mais do que fazem e não têm a menor noção do que realmente significa para elas."

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