São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Cuidado para não gastar demais neste final de ano

VERA BUENO DE AZEVEDO; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor deve ficar atento, neste final de ano, para não comprometer demais seu orçamento com crediário, cartão de crédito e cheque especial, e começar 96 endividado, como ocorreu em 94.
"Hoje, o risco de explosão da inadimplência (atraso nos pagamentos) é menor, mas não está descartado", diz Nelson Barrizzelli, economista da Universidade de São Paulo (USP).
No final de 94, a corrida às compras de Natal gerou um alto nível de endividamento do consumidor. Resultado: a inadimplência foi grande durante todo o primeiro semestre de 95.
Em abril, os crediários com pagamentos em atraso acima de 30 dias atingiram o nível recorde de 245.494, segundo a Associação Comercial de São Paulo.
Para evitar o agravamento do problema, lojas, bancos, financeiras e administradoras de cartões aumentaram as exigências e reduziram os limites de empréstimo.
Em julho e agosto, a Caixa Econômica Federal, por exemplo, renegociou os débitos dos correntistas com cheque especial. Eles tiveram seus limites de crédito reduzidos e, em alguns casos, perderam o benefício do cheque especial.
Lojas e financeiras que em 94 abriram crediários com prestações equivalentes a 50% da renda mensal do cliente baixaram esse limite para no máximo 30%, diz Claudio Heitor Moreira de Alvarenga, sócio da consultoria Qualy Card.
Segundo ele, as empresas melhoraram a capacidade de gerenciar o crédito. Em 94, aguardavam cerca de 30 dias após o vencimento da prestação para fazer a cobrança. Hoje, no entanto, esse prazo caiu para cerca de dez dias.
Tentação
É preciso lembrar que a tentação de comprar, no último trimestre do ano, é tradicionalmente grande.
Apesar de não haver hoje a mesma facilidade na obtenção de crédito que existia no final de 94, o consumo deve crescer e o risco de endividamento também.
Em primeiro lugar, porque o dinheiro no bolso do consumidor aumenta com o recebimento do 13º salário em novembro e dezembro.
Em segundo, devido à queda na inadimplência, desde o início de agosto, muitas lojas estão novamente ampliando os prazos dos crediários para até 18 prestações.
Ao mesmo tempo, os bancos e administradoras de cartões diminuem aos poucos as restrições para a concessão de empréstimos e financiamentos.
Finalmente, o governo começa a afrouxar as rédeas do crédito e a reduzir as taxas de juros.
Comportamento
A mudança do comportamento do consumidor é outro fator que deve evitar a repetição do quadro de endividamento e inadimplência registrado no final de 94 e primeira metade de 95.
"Após mais de um ano de real, o brasileiro já está habituado a conviver com moeda estável", diz Juarez Rizzieri, presidente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Embora concorde com essa afirmação, o economista Barrizzelli lembra que a população convive há apenas 15 meses com a estabilização, contra 40 anos de inflação.
"Hoje, o brasileiro aprendeu a valorizar pequenas quantias e dificilmente vai assumir um volume muito grande de prestações baixas, que somadas chegam a um valor elevado, como ocorreu em 94", diz Rizzieri.
Para Vera Marta Junqueira, diretora do Centro de Estudos do Procon-SP (Coordenadoria de Defesa do Consumidor), a experiência com moeda estável está tornando o consumidor mais consciente.
"Foi um aprendizado doloroso, mas as relações de consumo estão ficando cada vez mais maduras."
Em sua opinião, o consumidor precisa estar atento para não gastar mais do que seu orçamento permite, pesquisar preços e não aceitar aumentos abusivos.
Vera Marta diz ainda que, apesar da moeda estável, a dispersão de preços continua muito grande. Segundo ela, a pesquisa em diversas lojas é fundamental.

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