São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Bancos montam esquema de transição para novos fundos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com algumas diferenças -não sem importância-, os bancos montaram um figurino básico para a transição entre os atuais e os novos fundos.
Pela regra baixada pelo BC (Banco Central), os fundos atuais terão de ser extintos, incorporados ou fundidos com os novos até o dia 29 de dezembro. E já a partir de outubro estarão proibidos de receber novos depósitos.
A proibição de novos depósitos é que, na verdade, empurrou o mercado para a necessidade de lançar os novos fundos na praça.
Na montagem desses novos fundos, é possível perceber algumas preocupações comuns. A primeira foi a de garantir para as aplicações feitas até o dia 29 deste mês acesso à melhor rentabilidade possível.
O FIF de 60 dias não recolhe compulsório (parte dos recursos não é depositada obrigatoriamente no BC), ao contrário do de 30 dias (5%) e do de curto prazo (40%).
Pressionado, o BC fez uma série de alterações. Isentou do compulsório os fundos de 60 dias em diante, reduziu o percentual nos de 30 para 5% e diminuiu a rentabilidade da poupança (mudando o cálculo da Taxa Referencial).
Segundo Renato Raglione, do Unibanco, os fundos são competitivos para pequenos e médios aplicadores. Enquanto os CDBs para pequenas quantias (até R$ 10 mil) pagarão entre 80% e 88% do CDI (juros dos negócios entre bancos), a poupança paga 77% e os fundos de 30 dias, entre 85% e 90%.
Mesmo assim, para Roberto Parente, do Bradesco, o governo terá de mudar as regras dos CDBs. "A estrutura atual não é compatível com o processo de alongamento."
Uma segunda preocupação dos bancos foi a de separar o dinheiro antigo (depositado até o dia 29) do novo (a partir de outubro).
É que, segundo as regras do BC, se esses recursos ficarem no mesmo fundo, o saque será sempre do dinheiro mais antigo.
A exceção nesse caso é o Bradesco -que vai juntar as aplicações em um único FIF de 60 dias.
Parente diz, porém, que, se o investidor quiser, poderá aplicar seus recursos em outro FIF criado -que vai procurar acompanhar as oscilações dos juros do CDI.
É que, na interpretação de Luís Eduardo de Assis, do Citibank, os novos fundos não são exatamente os sucessores dos atuais.
Os fundos anteriores foram criados para que o dinheiro não perdesse da inflação. Agora, pondera, os investidores vão cobrar performance. Quem quiser ganhar mais dinheiro, terá de se arriscar mais. "Será uma revolução", afirma.
Menos otimistas sobre o alongamento dos prazos estão Maurício Murad, do Bamerindus, e Alfredo Setúbal, do Itaú.
Murad reclama da falta de instrumentos para alongar. "Os títulos emitidos por empresas não-financeiras estão limitados a 10% da carteira e os títulos do governo mais longos ou são corrigidos pela TR, que saiu perdendo, ou pelo câmbio, o que é arriscado."
Para Setúbal, o alongamento depende do comportamento do cliente. Ele pondera que, na estrutura atual, já havia um processo de alongamento. "Dois terços dos recursos aplicados no commodities estavam livres (da carência) há mais de 90 dias."
(JCO)

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