São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Socialista rejeita aliança com antieuropeus

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LISBOA

O candidato a primeiro-ministro do PS, Antônio Guterres, disse à Folha que, se for eleito, a educação será a prioridade do governo.
A afirmação foi feita em entrevista exclusiva, no carro Volvo que o leva de comício em comício.
Guterres está fazendo uma média de cinco comícios por dia, percorrendo mais de 400 km diários.
Ao final da entrevista, abriu o teto solar para acenar para as pessoas, antes de um comício na cidade de Tomar, centro do país.
O outro candidato ao governo, Fernando Nogueira, do PSD, também acelerou o ritmo da campanha, na reta final. A Folha tentou entrevistá-lo desde o dia 12. Na sexta-feira, recebeu afinal a notícia de que o candidato tinha a agenda lotada. Leia abaixo trechos da entrevista de Guterres.

Folha - O que o sr. propõe nas relações Portugal-Brasil?
Antônio Guterres - Até hoje, as relações têm sido sentimentais e afetivas. Importa que sejam efetivas, no plano do intercâmbio cultural, da defesa da língua e na economia. Importa que o setor privado e o Estado intensifiquem os laços econômicos entre os países e promovam projetos comuns.
Folha - As metas econômicas estão limitadas pelas exigências da UE. O que distingue o PS do PSD nessa área?
Guterres - Sobre o orçamento, a prioridade fundamental do PS será educação e formação profissional. Em segundo lugar, nós temos uma reforma fiscal a propor, visto que hoje o imposto de renda praticamente só incide sobre os rendimentos do trabalho. Teremos a preocupação de conciliar a política macroeconômica com o apoio às empresas.
Folha - Neste momento, Portugal é dependente das verbas da UE. O que é possível fazer em relação a isso?
Guterres - Essa dependência teve aspectos positivos, no que diz respeito a facilitar a criação de infra-estruturas básicas no domínio dos transportes. Teve também aspectos negativos, visto que criou em muitas empresas a lógica de dependência dos subsídios.
Folha - Qual a sua avaliação da década Cavaco Silva?
Guterres - O principal ponto positivo é a construção da rede rodoviária, graças aos fundos comunitários. Os principais aspectos negativos estão num excessivo autoritarismo e centralismo, gerador de abuso de poder, clientelismo e corrupção, negligência em relação aos setores produtivos e grande insensibilidade às questões sociais.
Folha - Caso ganhe e não tenha maioria absoluta, com que forças o sr. vai formar governo?
Guterres - Faremos um governo de maioria relativa. Mas não faremos coligações, na medida em que há dois partidos com projetos antieuropeus, o PP e o PCP.
Com o terceiro partido, que é o PSD, seria negativo para a democracia uma coligação, porque tenderia a conduzir frustrações e descontentamentos para lógicas extremistas no campo político.
Folha - O atual governo do PSD pode ser chamado de governo das auto-estradas. Como o sr. chamaria o seu governo?
Guterres - A paixão do meu governo será a escola.

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