São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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Mais desempregados

A demissão de 1,6 mil trabalhadores pela Mercedes-Benz ontem -que corresponde a pouco mais de 10% do total de sua força de trabalho- é mais um sinal de que o custo social da desaceleração da economia pode já ser excessivo.
Além do sofrimento imposto ao crescente número de desempregados -muitos dos quais acabam enfrentando situações dramáticas-, os possíveis excessos da política contracionista do governo podem ainda ser desfavoráveis ao controle da inflação no longo prazo.
Enquanto a produção está alta e o consumo vem caindo, os preços são deprimidos pela necessidade de reduzir os estoques. Mas se as empresas forem levadas a reduzir excessivamente a produção, a menor oferta de bens tende a pressionar os preços para cima quando da retomada do crescimento.
Ademais, as elevadíssimas taxas de juros que o governo paga sobre os títulos públicos visando a frear a economia implicam em custo enorme para a União, Estados, municípios, empresas e pessoas físicas endividadas. Do ponto de vista das contas públicas os juros tendem a ser uma das principais causas do provável déficit deste ano.
Seja pelo forte impacto das políticas contracionistas sobre a maioria dos setores produtivos, seja pelo excepcional custo das taxas financeiras "escorchantes", segundo o próprio presidente da República, seria de esperar mais sensibilidade das autoridades ao avaliar o avanço do desemprego. Seria lamentável se o governo enveredasse pela senda enganosa de atribuir quaisquer evidências negativas a interesses políticos. O desemprego é real.

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