São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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O bispo venceu

LUIS CAVERSAN

Luiz Caversan
RIO DE JANEIRO - Pelo menos na sua etapa mais explícita -a que alcançou amplamente a mídia-, a "guerra santa" entre o bispo Edir Macedo-Igreja Universal versus Rede Globo-Roberto Marinho foi muito mais vantajosa para o homem dos milhões de fiéis do que para a emissora do Jardim Botânico.
Neste fim-de-semana que passou, uma das principais áreas de lazer do Rio, a orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, estava tomada por dezenas de seguidores de Macedo.
Eles circulavam pelo local, orgulhosos, distribuindo seu jornal e defendendo seu líder contra as maldições globais. Todos ali, na rua, à luz do dia, expostos e ostentando fora de seus templos um orgulho do que para eles é sem dúvida uma vitória.
A tal vitória veio muito por conta da principal arma da Globo no embate com Macedo: a minissérie Decadência, que, além de ruim como peça de ficção, revelou-se péssimo artifício político.
Atribui-se ao bispo Edir Macedo a seguinte frase: a Igreja Universal é como o omelete: quando mais batem nela, mais ela cresce. Por esse raciocínio já seria vantajosa qualquer novela contra os evangélicos pentecostais.
Mas Decadência teve outros defeitos mais graves, e igualmente vantajosos: ao mesmo tempo em que carregou nas cores do pastor corrupto, mostrando-o como a origem de todos os males, amenizou os métodos adotados pela máquina de exploração dos desesperados, justamente o ponto mais vulnerável da Universal.
As pregações do personagem Mariel eram refresco de caju diante dos procedimentos da Universal, que conseguem, em alguns casos extremos, tirar até o dinheiro do ônibus do pobre do fiel desesperado.
O personagem da TV foi evidentemente inspirado em Macedo, o que garantiu todos os argumentos do tipo "perseguição" e opressão do mais forte (paralelo facílimo com Jesus).
Pior: a minissérie também criou um forte atrito com os chamados evangélicos "sérios", que ficaram ofendidos com as cenas em que se misturavam bíblias com sutiãs, pregação protestante com sinal-da-cruz e com as generalizações inconcebíveis, pelo menos para eles, os evangélicos.
O resultado disso foi uma manifestação formal das igrejas evangélicas, criticando a Globo e, agora com mais ênfase, batendo na Universal.
Para Macedo, melhor impossível.
Pela tal teoria do omelete, é isso mesmo que ele quer.

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