São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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"Globalização"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Marcelo Beraba terminou seu texto de ontem, neste espaço, manifestando o temor de que o jornalismo saia mais desgastado do que a Igreja Universal da novela em andamento.
Porque, diz Beraba, teve uma recaída no "denuncismo" histérico.
Tem razão. Mas suspeito que o problema é menos o "denuncismo" em si e mais o fato de que o jornalismo impresso, de uns tempos para cá, vem se transformando além da conta em lamentável cópia em papel do telejornalismo.
Como a Globo é dominante no telejornalismo, o que se está assistindo, na mídia em geral, é a paulatina "globalização" do jornalismo.
A Globo está conseguindo impor as pautas, atrás das quais vão muitos. E, aí, cometem-se os erros que Beraba corretamente apontou. Exemplo definitivo: o "Jornal Nacional" de sábado reconheceu o erro de trocar US$ 1 por US$ 100 na nota que um dos "pastores" da Universal exibia. E explicou que "só pôde ser verificado posteriormente" que o valor anunciado por seu locutor estava errado.
Ponto um: fica comprovado que, para a Globo, primeiro se põe no ar uma informação e só depois se "verifica" se ela é ou não correta. Retrato acabado de um tipo de jornalismo.
Ponto dois: nenhum outro meio de comunicação, que eu tenha visto, "verificou", antes de divulgá-la, se a informação da Globo era ou não correta.
É ou não é a "globalização" do jornalismo? Imagine o inverso: que a TV Record tivesse divulgado denúncias sobre Roberto Marinho. Alguém acha que repercutiriam no restante da mídia (e também junto aos poderes públicos) com ao menos um décimo da força com que repercutiram as fitas que a Globo divulgou?
Nem se imagine que se trata de episódios localizados. É frequente a cobrança aos repórteres, sucursais e correspondentes por informações que não constavam de seus textos, mas que o "Jornal Nacional" dera. Como se o fato de ter ido ao ar na Globo confira um carimbo sagrado a essa ou aquela informação.
Às vezes, é tão falsa quanto a nota de US$ 100 nas mãos do "pastor".

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