São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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O regular

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Ele tem como média a nota 5,1 -mais mediano impossível. Da população toda da cidade, os extremos se dividem: 28% o consideram ruim/péssimo, 27% o consideram bom/ótimo.
Mas é o número de pessoas que o consideram "regular" que dá o tom da avaliação que a cidade do Rio de Janeiro faz de seu prefeito César Maia. Para 47% das pessoas que habitam sua cidade, Maia é apenas regular.
Seria normal, é normal que uma administração pública gere adeptos e contrariedades, paixões e ódios até. O que não se espera é o conformismo, a conveniente adaptação dos argumentos à realidade dos números.
O Rio é uma cidade de conflitos e contrastes, talvez a mais emblemática do país quanto às idiossincrasias urbanas. Portanto, um verdadeiro laboratório em que fermentam a síntese de todas as crises e também as fórmulas aquelas nas quais se esconde a urbe possível do próximo milênio.
O gerenciamento de tamanho manancial político/social/urbanístico, como não podia deixar de ser, é alvo de polêmica e permeado de críticas e desassossegos. O que, repito, é normal.
O que não pode ser aceito como natural é o conformismo. Conformar-se com o regular.
É por aceitar que o mais ou menos está bem que o Rio chegou onde está, nos limites do inabitável -pelo menos em certas áreas da cidade.
É por deixar que a vida ficasse apenas mais ou menos boa, a lei, mais ou menos respeitada, os códigos de trânsito, mais ou menos obedecidos, os traficantes, mais ou menos combatidos, a pobreza, mais ou menos escondida que a degradação urbana campeou nos últimos anos.
Mas parece ser essa a sina do Rio e do carioca. Não se dar o direito do máximo, se conformar com o regular.
Trata-se de muito pouco para a cidade que o Rio de Janeiro ainda teima em ser. Muito pouco para a que inevitavelmente se tornará, apesar dos muitos políticos e cariocas mais ou menos.

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