São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Esperança à beira-mar

FERNANDO MOLICA

RIO DE JANEIRO - A maior manifestação pela paz na cidade ocorreu na praia de Copacabana, entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira.
Poderia parecer uma loucura reunir mais de 2 milhões de pessoas em uma cidade que virou paradigma de violência. Pior: a reunião ocorreria durante o réveillon, festa marcada pelo consumo excessivo de álcool, o que ajuda a aumentar a taxa de risco do evento.
O resultado, porém, foi o mais tranquilo possível: a exemplo do ocorrido em anos anteriores, as comemorações de fim de ano transcorreram em paz. O que teria acontecido? Afinal, a cidade é a mesma, seus habitantes e problemas, idem. O bom policiamento ajudou, mas não é suficiente para explicar a tranquilidade da festa.
Anteontem, ouvi uma opinião interessante: para a calma teria contribuído a esperança que marca o início de cada ano. Não seria hora de violência, mas de sonhos. Segundo a autora do diagnóstico, "até os traficantes de drogas devem ter ido para a festa".
Pode ser que eles não tenham ido. Mas a associação entre paz e esperança não deve ser desprezada. Aqui e em qualquer outro lugar, a falta de perspectivas acaba arrastando muitos jovens para atividades ilegais.
O assalto ou o tráfico de drogas acabam sendo alternativas para aqueles que, descrentes dos caminhos institucionais -em particular das possibilidades oferecidas pelo sistema educacional-, buscam outras maneiras de fugir da pobreza.
Assim, recuperar a esperança de uma vida melhor seria uma grande conquista na área de segurança pública. O fundamental seria criar condições que fizessem crianças e jovens acreditarem na existência de alternativas capazes de lhes oferecer um bom futuro.
Obs: depois de proibir a venda de livros como "Estrela Solitária", a Justiça fluminense ameaça interferir na vida sexual de personagens de novela. O juiz Gilberto Dutra Moreira concedeu liminar -decisão provisória, passível de cassação- para impedir a rede Globo de colocar no ar a cena em que a cigana Dara, personagem de "Explode Coração", seria desvirginada. No início da noite de ontem, a Globo tentava cassar a liminar que é, talvez, o primeiro caso de tentativa de preservação de um hímen virtual.

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