São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jessica Lange deita e rola em drama aéreo sobre explosões nucleares

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Caso não houvesse nenhuma outra razão, assistir ao vídeo "Céu Azul" valeria a pena, no mínimo, apenas para conferir a performance que deu à Jessica Lange o Oscar de melhor atriz no ano passado.
Houve quem dissesse que ela carregou o filme nas costas, mas isso não é verdade.
Contando a história de apenas um núcleo familiar, o diretor Tony Richardson divide a trama em duas vertentes distanciadas, porém relacionadas entre si. Isso resultou em um filme que é a sua própria metáfora.
EUA, 1962: Jessica é Carly, uma balzaquiana sedutora e tresloucada, frustrada por não ser uma estrela de Hollywood. Seu marido é o engenheiro nuclear Hank T. Marshall (Tommy Lee Jones, desta vez apenas correto), especialista em explosões atômicas. O casal tem duas filhas.
Devido aos excessos da mulher -vestidos colantes, topless na praia e caracterização à la Marylin Monroe-, a família é transferida para uma base no Alabama.
Jones é nomeado coordenador dos testes nucleares americanos no deserto de Nevada. Vai e não leva a família consigo.
Ele acaba descobrindo que, ao partir para controlar explosões no deserto, havia deixado uma ogiva libidinosa em uma base coordenada pelo solícito coronel Johnson.
É nesse momento que o círculo se fecha. O que era universal (a explosão da bomba) vira particular e passional (o triângulo entre mulher, subordinado e seu superior).
Humanista e meio conformado com a situação de marido traído, Jones acaba sendo vítima de tortura psicológica. Mais pelas peripécias da mulher do que pelas falcatruas nucleares americanas que está disposto a delatar.
A base do roteiro é o argumento autobiográfico escrito por Rama Laurie Stagner. Seus pais teriam sido os reais protagonistas.
Para tornar a trama mais palatável, o diretor escamoteou os meandros da tortura psicológica. E deixou passar uma boa chance.
Centrado apenas no âmbito das relações humanas aparentes, o roteiro perde parte da força. E, aspecto reforçado pela ótima reconstituição de época, o filme acabou ficando com cheiro de mofo.
Se não dissipou as nuvens que encobrem o roteiro de "Céu Azul", o diretor levou para o túmulo -ele morreu após a produção da fita- um trabalho que não faz vergonha na sua filmografia.
Mesmo sem ter explorado toda a octanagem disponível na trama, o filme, em nenhum momento, é um traque.

Vídeo: Céu Azul
Direção: Tony Richardson
Elenco: Jessica Lange, Tommy Lee Jones, Powers Boothe
Lançamento: LK-Tel (tel. 011/825-5766)

Texto Anterior: Fassbinder filma horror do casamento
Próximo Texto: "Distrito 87" preserva atmosfera e inteligência de Ed McBain
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.