São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O impassível Malan

A figura impassível do ministro da Fazenda, Pedro Malan, transmite segurança quanto às intenções do governo. Mas não redime os excessos na administração da taxa de juros -segundo a opinião amplamente majoritária.
Em entrevista exclusiva publicada por esta Folha no último domingo, o ministro reconhece que as taxas de juros "extremamente altas", segundo sua definição, estiveram entre os principais motivos do déficit público da União em 95. E aponta que, no caso dos Estados e municípios, os gastos correntes foram o fator mais grave, ainda que os encargos financeiros tenham elevado as respectivas dívidas.
Seria de esperar, portanto, que o governo agisse de maneira mais enfática na prometida queda dos juros. O ministro queixa-se de que algumas críticas não teriam percebido a mudança já ocorrida. Em março de 95 as taxas saltaram para 4,26% ao mês e agora encontram-se em 2,6% mensais. É verdade.
Mas, ao queixar-se, o ministro parece não considerar que ao final do primeiro trimestre de 95 a economia vinha crescendo 10,4% em relação ao mesmo período do ano anterior e que esse ritmo já havia caído para 0,2% no terceiro trimestre, segundo o IPEA. Em março, ademais, o país viveu um momento agudo de fuga de capitais. Porém, desde meados de 95 há um intenso acúmulo de reservas -a ponto de o próprio governo tentar contê-las com a elevação do IOF.
Assim, se de fato os juros caíram, também está evidente que os motivos para mantê-los tão altos desapareceram. É curta a distância que separa o impassível do apenas reticente. O ministro corre o risco de percorrê-la, a um alto custo para os cofres públicos e o setor produtivo.

Texto Anterior: O olho do eleitor
Próximo Texto: Contra a impunidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.