São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
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Palavra de ordem

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - O país não é pobre, é injusto. A frase, ainda não renegada, é de autoria do presidente Fernando Henrique e, ao contrário de outras, parece que há empenho do governo para confirmá-la.
Afinal, só um país com muito dinheiro de sobra pode se dar ao luxo de fazer um programa de salvação para banqueiros, privados e estatais, que, somando os casos do Econômico, Nacional e Banespa, deve custar mais de R$ 12 bilhões aos cofres federais.
O Sivam é outro exemplo da riqueza nacional. Apesar de mais falado, custa menos que o socorro aos banqueiros, R$ 1,4 bilhão. Essa soma não inclui o custo político da demissão de um ministro e um secretário de Estado.
Esses casos demonstram o esforço do governo em provar que o Brasil não é um país pobre. Quanto a ser injusto, basta ver o desenlace de cada um dos negócios que os envolvem.
O sistema de radares da Amazônia está prestes a ser aprovado pelo Senado, mesmo depois de todas as irregularidades apontadas sobre a gestação e a contratação do projeto.
Além disso, significa a sujeição à tecnologia externa, quando há cientistas e empresários nacionais dizendo que não faltam condições para o país desenvolver um sistema que atenda às necessidades locais, por um custo inferior.
Alguns banqueiros estão com bens indisponíveis, mas isso não cria a expectativa de que outros, além dos contribuintes, possam perder dinheiro com as intervenções determinadas pelo Banco Central. Afinal, há longa tradição para as técnicas de esconder patrimônio, dentro do país ou no exterior.
Vendo como se gasta facilmente dinheiro público, não dá para entender a transformação do ministro da Saúde num quase pedinte de esmolas. Há meses ele tenta convencer o país e os congressistas da necessidade da criação de um imposto específico para a sua área.
Seria mais fácil para Jatene recorrer à mesma fonte que gera dinheiro sem parar para bancos e projetos suspeitos do governo. Aparentemente, essa fonte é inesgotável, pois está calcada na paciência dos cidadãos, cujo limite é uma incógnita.

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