São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Sindicalista reza por bíblia heterodoxa

Vicentinho prefere poemas eróticos

REINALDO AZEVEDO; CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REDAÇÃO

Não é só na política que Vicentinho reza por uma bíblia nada ortodoxa. Sobre a sua mesa, a outra, a Bíblia, também mostra um gosto pela diferença. Nela, Vicentinho, pai de seis filhos entre 18 anos e 10 meses, prefere os textos eróticos.
O presidente da CUT é leitor da "Bíblica Sagrada" publicada pela Edições Paulinas, uma leitura das Santas Escrituras à luz da Teologia da Libertação com a qual a própria Santa Sé andou implicando. Por pouco, não integrou o índice dos livros malditos pela Igreja Católica.
Lê-se, por exemplo, uma nota explicativa à parábola do rico e do pobre, no livro de Lucas, capítulo 16, versículos 19 e seguintes: "A parábola é uma crítica à sociedade classista (...) e uma exigência de profunda transformação social para criar uma sociedade onde haja partilha". A igreja conservadora avaliou que há aí um interpretação marxista do texto sagrado.
Embora Vicentinho se confesse fã ardoroso do "Evangelho Segundo São Lucas", que marca o ponto de partida da Igreja, o sindicalista gosta mesmo do que há de mais mundano no e refinado nas Santas Escrituras: "O Cântico dos Cânticos", do século 5 ou 4 a.C.
Os cânticos, atribuídos ao rei Salomão, são de uma profunda inspiração erótica e exaltam o amor carnal entre homem e mulher, com metáforas mais do que explícitas das sinuosidades do corpo feminino e da rigidez do corpo masculino.
Ao fim da leitura, Vicentinho ri da própria desinibição e diz que a esquerda não precisa ser triste para parecer séria: "Ainda hoje há companheiros que acham que a gente não pode rir. Como é que a gente vai querer uma sociedade mais feliz se a gente não é feliz?".
(Reinaldo Azevedo e Cristiane Perini Lucchesi)

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