São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Racha na Procuradoria chega às urnas

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois grupos que disputam o poder no Ministério Público de São Paulo voltam a se enfrentar a partir da próxima segunda-feira, quando os 1.700 promotores e procuradores do órgão começam a votar para eleger o novo procurador-geral de Justiça do Estado.
Seu adversário é Luiz Antônio Marrey, 40, um dos líderes do grupo de oposição que se fortaleceu a partir de 1990.
Naquele ano, assumia a Procuradoria Geral Antonio Araldo Dal Pozzo, nomeado pelo então governador, Orestes Quércia, que consolidou, com a escolha, a influência do Executivo na instituição.
O cargo em disputa tem uma função estratégica: seu ocupante tem, entre várias outras atribuições, a de investigar e acionar o governador do Estado na área civil por eventuais atos de improbidade administrativa.
O procurador-geral também é o dirigente de uma instituição que congrega cerca de 200 procuradores e 1.300 promotores encarregados de iniciativas nas áreas de dano ao patrimônio público, ao meio ambiente e defesa do consumidor.
Há outro candidato, o procurador Plínio Gentil, que registrou seu nome apenas para que fosse atingido o número necessário para composição da lista tríplice que será encaminhada ao governador.
Tradicionalmente, é nomeado o procurador que obtém mais votos (veja reportagem abaixo). Gentil é ligado ao grupo de Marrey e apóia a candidatura do oposicionista.
Burle carrega o estigma da identificação com o grupo de Dal Pozzo e do ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho, por quem foi nomeado há dois anos.
A gestão de Dal Pozzo foi marcada pela estreita ligação com os dois últimos peemedebistas que ocuparam o Palácio dos Bandeirantes -Fleury e Quércia.
A proximidade era tanta que ele foi nomeado secretário da Administração de Fleury no fim de 1993, logo depois de se aposentar no Ministério Público.
Eleito com o apoio de Dal Pozzo, Burle rejeita qualquer vinculação com o grupo de seu antecessor e do ex-governador Fleury. Afirma que só foi nomeado porque venceu as eleições contra os dois candidatos da oposição. "Fui nomeado pela classe", afirma.
Burle ganhou a eleição por uma diferença de 12 votos em relação ao segundo colocado, o procurador Luiz Carlos Galvão de Barros.
A divisão da classe se refletiu em toda a sua gestão, com a presença majoritária da oposição no Conselho Superior do Ministério Público, órgão encarregado de rever atos do procurador-geral.
Marrey fazia parte do grupo de seis procuradores eleitos para o conselho em dezembro de 93 com críticas a Dal Pozzo, que acabou deixando o cargo de procurador-geral antes do previsto em razão da derrota para a oposição.
O embate entre Burle e o Conselho Superior trouxe pelo menos duas vitórias significativas para a oposição: a suspensão, no Supremo Tribunal Federal (STF), do dispositivo que concentrava poderes nas mãos do procurador-geral e a abertura de ação contra Fleury, acusado de contratações irregulares no Baneser.
Em ambos os casos, Burle sustentava posição contrária à que acabou prevalecendo. O candidato da oposição baseia sua plataforma no discurso da independência do Ministério Público. Em sua opinião, Burle representa a continuidade do projeto de atrelamento da instituição ao Executivo.
O procurador-geral também bate na tecla da independência e insinua que seus opositores teriam atuação político-partidária, cujo objetivo seria a projeção pessoal.
As iniciativas contra Fleury são lembradas por Burle para mostrar seu suposto distanciamento do ex-governador.
Em setembro de 95, por exemplo, ele obteve na Justiça a quebra do sigilo bancário e a indisponibilidade dos bens de Fleury em razão de empréstimos concedidos pelo Banespa à empresa Paraquímica na gestão do ex-governador.
Marrey vê nessas atitudes uma estratégia de sobrevivência política e insiste na tese do continuísmo. "É o mesmo grupo que apoiava o projeto de atrelamento no tempo do procurador Antônio Araldo."

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