São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Marrey quer renovação e abertura à sociedade

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos fundadores do Movimento Ministério Público Democrático, em 1992, o procurador Luiz Antônio Marrey insiste na tese de independência do Ministério Público frente ao Executivo.
Em termos administrativos, propõe, a exemplo de seu adversário, a modernização do Ministério Público, o combate ao crime organizado e o apoio à criança e ao adolescente de rua.
A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida há uma semana à Folha:
*
Folha - Qual é sua expectativa em relação à eleição?
Luiz Antônio Marrey - Sinto vontade de renovação de posturas, de uma Procuradoria Geral independente, apartidária e que seja mais aberta à sociedade.
Hoje, o embate que nós temos na eleição é entre uma proposta de continuísmo da administração anterior, do procurador Antônio Araldo, e outra de renovação da postura da Procuradoria Geral.
Folha - Esse desejo de mudança parece que não é tão forte. Há o exemplo recente da eleição do Conselho Superior, na qual a oposição foi derrotada.
Marrey - A votação para o Conselho Superior foi equilibrada. Foi cerca de 46% para o nosso lado e 54% para a situação. O que se deve deixar claro é que o atual procurador-geral dizia que iria eleger os seis conselheiros.
Folha - Como o sr. vê a gestão do procurador Burle?
Marrey - Bom, Há algumas dezenas de investigações em curso e pouquíssimas trouxeram algum resultado conhecido.
Folha - O sr. poderia dar exemplos das que não tiveram resultado?
Marrey - A apuração de eventual dano ao patrimônio público pela privatização da Vasp, a apuração de eventuais irregularidades na construção do novo prédio da Eletropaulo, a apuração de eventual superfaturamento da duplicação da rodovia Matão-Bebedouro.
Outro fato que eu queria apontar é que, após o Supremo ter suspendido a vigência do dispositivo que estabelecia concentração de poderes nas mãos do procurador-geral, a Procuradoria Geral remeteu os casos à Promotoria da Cidadania dizendo sempre a mesma coisa: "Eu iria propor a ação civil pública, mas a suspensão dos seus poderes não deixou".
É curioso que se manifeste essa vontade da propositura de diversas ações somente depois que o Supremo lhe retirou poderes.
Folha - Como o sr. resumiria sua plataforma de campanha?
Marrey - Eu vou ter uma postura de independência no exercício do cargo. Em segundo lugar, uma postura de abertura para sociedade.
Quero tomar providências para que o Ministério Público tenha ativa participação na investigação da criminalidade organizada.
Também temos de estabelecer prioridades. O Ministério Público deve tratar de inúmeras questões, desde a defesa do patrimônio público, criminalidade organizada, defesa do meio ambiente, do consumidor, cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Entendo necessário que a instituição eleja algumas prioridades.
Folha - Quais prioridades o sr. elegeria?
Marrey - Elas devem ser estabelecidas em seus vários campos. Não é que o Ministério Público vai deixar de tratar de um assunto. Mas, em cada área de sua atuação, nós temos de ter prioridades.
Eu tenho muita preocupação com a defesa do meio ambiente no litoral norte, por exemplo. Acho necessário ainda que nos preocupemos bastante com as crianças e adolescentes de rua. As prioridades têm de ser estabelecidas em discussão com os promotores.
Acho também fundamental que passemos por um processo de modernização da administração do Ministério Público.
Além disso, temos de procurar dar respostas mais rápidas, em especial naqueles campos em que há uma especial demanda por resultados. E eu elejo dois campos: dano ao patrimônio público e combate ao crime organizado.
(CT)

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