São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Burle defende instituição sem vínculo político

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Eleito há dois anos com 678 votos, o procurador José Emmanuel Burle Filho tenta repetir agora a mesma trajetória de seus mais recentes antecessores: ser reconduzido ao cargo e completar uma gestão de quatro anos.
Sua principal plataforma é a continuidade de seu trabalho, no qual inclui apoio aos promotores, modernização do Ministério Público, combate ao crime organizado e atuação apolítica.
A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha, concedida na quinta-feira:
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Folha - Quais foram os principais fatos de sua gestão?
Burle - Nós passamos a designar promotores para acompanhar a apuração dos principais fatos envolvendo o interesse de São Paulo.
Criamos um grupo de combate ao crime organizado e começamos a ter uma atuação mais profissional no crime de sonegação fiscal.
Na área de ação civil pública, temos exemplos marcantes. Temos uma ação pioneira envolvendo menores de rua de São Paulo. A prefeitura está obrigada judicialmente a, no prazo de um ano, dar atendimento a esses menores, retirando-os da rua. Talvez seja a questão mais relevante desses dois anos.
Folha - Mas há casos em que as investigações começaram há dois, três anos e ainda não acabaram. Entre eles, está o superfaturamento do Metrô da Paulista, a privatização da Vasp e irregularidades na construção do prédio da Eletropaulo.
Burle - Não temos nenhuma investigação parada. O que temos é dificuldade em termos técnicos.
Não temos estrutura para apurar se houve ou não superfaturamento na construção do Metrô, uma obra extremamente complexa. Então, temos de nos valer do Instituto de Criminalística, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas e da Secretaria de Ciência e Tecnologia.
Folha - Como o sr. resumiria sua plataforma eleitoral?
Burle - Vamos voltar um pouquinho para esses dois anos.
Na área de improbidade administrativa, tivemos a primeira ação no Brasil proibindo contratação sem concurso público, no caso do Baneser. Essa ação eu ajuizei com menos de 90 dias no cargo.
Temos ações civis públicas contra 71 pessoas, abertas na minha gestão. Sabe qual o valor dessas ações? Perto de R$ 200 milhões.
Folha - Se for reconduzido, quais serão suas prioridades?
Burle - A mais fundamental é a continuidade do trabalho. A manutenção do apoio individual ao promotor. Também a manutenção da postura de autonomia, independência e trabalho profissional, não-político, da Procuradoria Geral frente ao Estado.
Folha - Quais diferenças o sr. vê entre as duas candidaturas?
Burle - A minha já é conhecida da instituição. As três premissas do meu trabalho são: racionalização do trabalho, profissionalização e ética na conduta.
Quando digo ética, é justamente atuação não envolvida pela questão político-partidária, sem nenhum pensamento de se projetar. A grande diferença está aí.
Folha - O seu adversário não tem essas características?
Burle - Eu não sei porque ele nunca foi procurador-geral. Os dois adversários meus, nenhum deles nunca entrou com ação civil pública na vida.
Folha - A oposição afirma que o sr. tem feito esforço para desvincular sua imagem da de Fleury. No fim do ano passado, o sr. tomou algumas iniciativas que atingiram diretamente o ex-governador. Por que essa medidas não foram tomadas antes?
Burle - Essa colocação envolve típica maldade política.
Folha - Mas houve alguma ação contra o ex-governador em seu primeiro ano de mandato?
Burle - Eu assumi em fevereiro. Em menos de 90 dias, entrei com ação sobre o Baneser, que, embora não pegando o Fleury diretamente, atingia o seu governo.
Com menos de 90 dias, houve reabertura do caso Israel, envolvendo o ex-governador Quércia e o ex-governador Fleury.
(CT)

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