São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996 |
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Alencar diz que poderá fumar maconha
AZIZ FILHO; SILVANA DE FREITAS; SERGIO TORRES
A discussão cresceu neste verão com a moda criada por usuários da droga que frequentam o posto 9 da praia de Ipanema (zona sul). Eles passaram a usar apitos para alertar os colegas da chegada da polícia. Alencar disse que "ainda" não é a favor da descriminação porque, segundo ele, não estão definidos "efeitos diretos e colaterais". "Me disseram que a maconha cura glaucoma. Então é remédio? Se houver uma disputa, acabo fumando para saber o que é. Fico até acanhado de dizer, mas não experimentei. Não tive chance. Não sei direito o efeito", disse, sorrindo. As declarações foram feitas em tom descontraído na sede do 32º Batalhão de Infantaria Motorizada, em Petrópolis, após a decolagem do helicóptero com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, o projeto de lei que muda a política de drogas "busca o equilíbrio" (leia ao lado). "Quando o povo assimila hábitos, está criando a lei." Alencar disse que "se os cientistas resolverem que isso não caracteriza o mal, é melhor que se descrimine para evitar a desmoralização da autoridade. Quem o pratica fica sujeito à extorsão." Alencar afirmou que a polícia está certa ao reprimir a maconha na praia "enquanto for ilícita". "Vamos ter uma grande discussão. Ipanema tem muita força. É sede da classe média, que é sempre vanguarda desses movimentos. Vamos discutir se eles engolem o apito ou se eles apitam", afirmou. Ele disse que em sua geração não havia o hábito da maconha, que teria vindo "na geração dos Beatles". "Na que precedeu a minha, o intelectual tinha de cheirar. Era cocaína na época. Na minha, intelectual tinha outros vícios." Alencar defendeu a legalização do jogo-do-bicho: "O jogo virou uma praga nociva porque um dispositivo hipócrita, mentiroso, diz que é uma contravenção penal". Manifestação Vigiado por 20 PMs, o ato pela liberação da maconha, ontem à tarde em Ipanema, se limitou a discursos -não houve "apitaço" nem consumo de maconha. Promovido pelo deputado estadual Carlos Minc (PV), a manifestação atraiu mais policiais do que adeptos da liberação da droga. Os cerca de 15 manifestantes presentes estenderam faixa que pregava: "Por uma Política Democrática de Drogas. Usuário não é Criminoso". O deputado federal Fernando Gabeira (PV) chegou à praia no final da manifestação. A favor do projeto que tramita no Congresso, o ato consistiu na faixa de protesto e em discursos de Minc e Rogério Rocco, do Conselho Estadual de Entorpecentes. "O objetivo é sensibilizar o Executivo e os parlamentares", disse Rocco. A moda dos apitos foi revelada pela Folha em dezembro. A Secretaria de Segurança ordenou a repressão ao uso de maconha no posto 9. Na semana passada, um casal foi preso com apitos. Colaborou SERGIO TORRES, da Sucursal do Rio Texto Anterior: Festa de estrelas vai até 7h30 no Hotel Maksoud Plaza Próximo Texto: Lei deve ter mudança Índice |
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