São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atividade econômica surpreende analistas

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O nível de atividade da economia está surpreendendo positivamente a consultores e analistas do mercado financeiro.
O cenário catastrófico previsto para o primeiro trimestre, com aprofundamento da recessão, não se materializou.
"O quadro está melhor do que o previsto", afirma Alfredo Setúbal, do banco Itaú.
Tanto que, lembra o economista-chefe do Citibank, Amaury Bier, "o setor de embalagens está trabalhando com 80% da capacidade instalada, o que é um claro indício de aquecimento".
Bier completa, afirmando que o comportamento de embalagens serve "como um indicador antecedente" para um conjunto muito amplo de setores industriais.
"A produção dessazonalizada (sem considerar as variações típicas de determinadas épocas do ano) física de bens de consumo já voltou aos níveis do pico do primeiro semestre de 95", diz Fernando Montero, consultor da MB Associados.
Há ainda outros indicadores positivos. Montero lembra que a oferta de crédito ao consumidor tem crescido no varejo.
Leocádio Geraldo Rocha, da comissão de Operações Bancárias da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), diz que a inadimplência continua em queda.
Rocha diz que vencem agora as renegociações de dívidas feitas no ano passado. "Os bancos que adequaram o pagamento ao fluxo de caixa da clientela não devem ter problemas."
Mas Setúbal pondera, porém, que a demanda por crédito continua bastante retraída.
Estoques
O erro de avaliação, que previa o aprofundamento da recessão nesse primeiro trimestre, começou ainda em dezembro.
Segundo Montero, a maior parte das previsões foi construída ainda quando se imaginava um Natal fraco -o que acabou também não acontecendo.
É que, explica ele, a primeira parcela do 13º salário foi utilizada quase que inteiramente para o pagamento de dívidas e não impactou as vendas.
Montero discorda, porém, que as vendas de Natal tenha sido maiores do que as expectativas. "Dessazonalizadas as vendas de Natal apenas mantiveram o padrão de consumo que prevalece desde setembro de 1995. Não houve bolha alguma."
"Assim como se errou feio quando, no primeiro semestre de 95, a economia acumulou estoques de forma exagerada; agora, não se conseguiu avaliar corretamente a demanda e os estoques caíram mais do que se previa", diz Montero.
É o movimento de reposição de estoques, concordam os analistas, é que está sustentado o atual nível de atividade.
Mais importante. Todo o movimento atual de reposição está sendo bancado basicamente pela indústria local, já que as importações continuam em queda (veja gráfico).
"Há uma defasagem de três meses", diz Montero, prevendo novo crescimento de importações, especialmente de bens de capital.
Precipícios
Embora exista o risco, não necessariamente o aumento das importações vai redundar em déficits comerciais (importações maiores que exportações). "O segundo trimestre do ano sempre registra um crescimento sazonal das exportações", diz Montero.
Mas o mercado já trabalha com a expectativa da continuação dos déficits, embora preveja uma balança comercial relativamente equilibrada para o ano.
Na realidade, segundo Bier, o governo escolheu um caminho "muito difícil. Ele é estreito e dos dois lados têm precipícios".
A dívida interna cresceu no ano passado 76%, atingindo R$ 108,58 bilhões. De outro lado, está mesmo a ameaça do ressurgimento dos déficits comerciais.
Apesar da confortável posição das reservas internacionais, se voltarem os déficits volta a discussão da dependência do país ao fluxo de recursos externos.

Texto Anterior: Empresas disputam mercado de US$ 8 bi
Próximo Texto: Namoro e test-drive
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.