São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Uma idéia animal

HELCIO EMERICH

Muita gente torceu o nariz quando Pierce Ledbetter, morador de Memphis, Tennessee (EUA), resolveu lançar no mercado norte-americano um novo tipo de adubo para gramados e jardins, batizado com o nome de "Zoo Doo". O "produto" partia de uma idéia meio maluca: embalar e vender um composto de excrementos de elefantes e de rinocerontes, com matéria-prima colhida no próprio zoológico da cidade.
Mas Ledbetter não era tão pirado como se imaginava. Numa viagem que havia feito à Cingapura, ele observou que naquele país a venda de esterco de paquidermes era uma prática comum e descobriu também que sua ação na fertilização das plantas era muito superior à do estrume do gado bovino ou das aves.
De volta aos EUA, foi conversar com o pessoal do zoológico de Memphis e verificou que apenas uma parte das fezes dos elefantes e dos rinocerontes era utilizada na adubação, o resto se jogava fora.
Ledbetter desenvolveu então um método de compostagem do esterco, que é curtido durante seis meses para eliminar o odor e depois ganha um aspecto final semelhante ao dos grãos de café.
Ao mesmo tempo em que elaborava o novo produto, o criador do "Zoo Doo" soltava seu lado marqueteiro. Fez contato com centenas de outros zoológicos norte-americanos para garantir o suprimento de matéria-prima. Encomendou a criação de uma linha de modernas embalagens (pacotes iguais aos de leite longa vida, baldes de plástico de vários tamanhos etc.).
Investiu no projeto US$ 10 mil de economias pessoais e colocou o produto nas principais lojas de jardinagem e floriculturas de Memphis. A campanha de lançamento se resumiu a displays no ponto de venda, folhetos de instrução e um eficiente serviço de atendimento ao consumidor por telefone (que tocava "Love Me Do" dos Beatles enquanto os clientes aguardavam o esclarecimento de suas dúvidas).
Para alegria dos ambientalistas, a propaganda enfatizava o conceito de adubo ecologicamente correto, sem componentes químicos e, pelo menos, duas vezes mais rico em nitrogênio que os fertilizantes disponíveis no mercado.
Se você está duvidando de que essa aventura possa ter dado certo, saiba que no primeiro ano a empresa de Ledbetter (Zoo Doo Compost Co.) faturou US$ 250 mil, e hoje, cinco anos após o lançamento, comercializa o produto em quase todo o território norte-americano.
Através de franquia, 12 zoológicos dos EUA passaram a fabricar e embalar o adubo para vender nas suas lojas de "souvenirs". A propaganda agora utiliza mídia especializada como as revistas "Country Living" e "Organic Gardening".
A promoção inclui a distribuição de kits para jardinagem, camisetas, envelopes com sementes etc. No ano passado, o adubo de Memphis desembarcou na Inglaterra (o país que mais tem paixão por parques e jardins) e em 96 começará a ser vendido na Coréia (onde uma das paixões nacionais é o rinoceronte).
Aí talvez Ledbetter vá enfrentar seu primeiro problema, que é o nome do produto. "Zoo Doo" é muito americano para funcionar em outras línguas. Quando chegar à França, por exemplo, a tradução literal seria algo como "Merde du jardin d'acclimation" o que, convenhamos, não pega bem.

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