São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Preço do livro subiu 36% em dólar em 1995

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro consumiu uma quantidade maior de livros no ano passado. Foram 12,3% de unidades a mais que em 1994: 300 milhões contra 267 milhões.
Mas não é essa propriamente a novidade. De novo está o fato de os livros terem se tornado em média bem mais caros.
Saíram das editoras a um preço unitário, em dólar, 36% maior. Em 1994 um livro produzido custava US$ 4,49. Em 1995 o preço médio subiu para US$ 6,10.
São números calculados a partir do único levantamento sério sobre o comportamento do mercado editorial. Trata-se de pesquisa feita junto às editoras pela Fundação João Pinheiro, de Belo Horizonte, sob encomenda da CBL (Câmara Brasileira do Livro).
A fundação -em seu estudo sobre 1995, baseado na coleta dos três primeiros trimestres e e na projeção sobre o quarto- recolhe para efeitos estatísticos os números de exemplares e o faturamento das editoras em cada categoria de livro comercializada.
O preço médio e sua evolução foram calculados pela Folha.
Sérgio Machado, da Editora Record e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, diz que esse aumento em dólar apenas refletiu o encarecimento real dos componentes do preço.
"O papel custava US$ 600 a tonelada no começo de 1994. Custa hoje US$ 1.200. A mão-de-obra das gráficas foi reajustada duas vezes, a última delas, em setembro passado, em 30%", argumenta.
Há ainda, diz ele, outro fator que relativiza qualquer cálculo pela média. "Os editores têm lançado livros com um número maior de páginas, mais ilustrações e edições com mais cores."
Outro editor e dirigente classista, Henrique Maltese, vice-presidente da CBL, afirma que, a rigor, "o preço do livro não aumentou, já que o leitor está pagando por um produto de qualidade editorial bem maior que no passado".
Breno Altman, da Scritta, lança outros dados em discussão. Para não caírem em volume de faturamento, as editoras precisaram, em 1995, lançar um número de títulos maior que planejavam.
Ou seja: foi menor o peso das obras que já elas dispunham em seus catálogos e para as quais não precisam fazer investimentos em tradução, edição ou fotolitos.
A moral da história, segundo ele, é que o volume de faturamento cresceu, mas o lucro cresceu bem menos, ficou estagnado ou até diminuiu.
Altman afirma, por fim, que o mercado editorial é no fundo uma soma de submercados que pouco têm a ver entre si. Entre o editor que vende livros didáticos para o governo e o editor que imprime uma obra sob encomenda para ser oferecida como brinde há como única semelhança o fato de ambos fabricarem livros.
A falta de simetria entre esses submercados é de certa forma também apontada por Elizabeth de Melo Naves e Marta Oliveira, responsáveis pela pesquisa da Fundação João Pinheiro.
Eles oscilaram de forma diferente. Os didáticos cresceram 10% em número de exemplares e os religiosos em 59%, um salto excepcional. Ao mesmo tempo, nenhum dos subsetores se ressentiu de um faturamento inferior ao do ano anterior. Pela ordem, cresceram mais os religiosos (101%), os didáticos (68%), os científicos e técnicos (26%) e as obras gerais (11%), que englobam literatura ou poesia.

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