São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Renuncia primeiro-ministro da Bósnia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro-ministro da Bósnia, Haris Silajdzic, anunciou ontem sua renúncia em protesto contra a decisão do Parlamento do país de reduzir o gabinete que ele formaria para o novo Estado da Bósnia.
Segundo o acordo de paz de Dayton (EUA), entre as partes em conflito na região, o novo Estado da Bósnia deverá compreender um governo central e duas entidades governamentais subsidiárias: a dos sérvios e a da federação entre os muçulmanos e croatas.
Silajdzic foi encarregado de formar o novo governo central. Segundo votação do Parlamento do país, o número de ministros do novo governo central seria reduzido para cinco, com um sexto "ministro" que não teria pasta.
Os outros ministérios existiriam, no caso dos muçulmanos (que hoje formam o governo bósnio), apenas na federação muçulmano-croata.
Silajdzic queria pelo menos seis ministérios completos e, por isso, recusou o direito de continuar como premiê da Bósnia depois da nova formação do Estado.
Ele acusou o seu próprio partido, o SDA (Partido da Ação Democrática), de ter manipulado a votação. "O voto parlamentar foi resultado da pressão do SDA, e eu não posso aceitar isso", disse. "A democracia sofreu forte ataque."
Uma reunião do comitê central do SDA decidiu indicar para o cargo de premiê Hasan Muratovic, o atual ministro encarregado pelas relações com a Otan (aliança militar ocidental), segundo a agência de notícias bósnia "BH Press".
Silajdzic já havia anunciado sua renúncia em agosto de 1995 por causa de disputas de procedimento com o Parlamento, mas ela foi então rejeitada pela Presidência.
Hoje, que o país vive uma paz temporária monitorada pelo Ocidente, acredita-se que sua presença não é mais necessária.
Simpatizantes de Silajdzic disseram que ele deve formar um novo partido para desafiar o SDA em eleições previstas para este ano.
O chanceler da Bósnia, Muhamed Sacirbey, já anunciou sua renúncia há dois meses, mas continua no governo. Ele só deve ser substituído com a formação do novo governo central, em que seu cargo seria dado a um croata.
Silajdzic, 50, tornou-se chanceler bósnio em 1992 e mais tarde foi indicado premiê. Sua atuação no cargo foi criticada internamente por dar muita importância à política externa. Ele e Sacirbey eram as mais proeminentes autoridades bósnias durante a guerra.
Ontem, um soldado francês da força de implementação da paz da Otan conseguiu resgatar o motorista de um carro que caiu de uma ponte no rio Neretva, próximo a Mostar (sul da Bósnia).
As outras cinco pessoas que estavam no carro continuam desaparecidas e são dadas como mortas, por causa das águas geladas do rio.
Os desaparecidos são dois alemães membros de um grupo de ajuda humanitária, um policial e dois tradutores bósnios.
Os chefes da missão da Otan na Bósnia prometeram ontem proteger os investigadores de possíveis fossas coletivas em que possam estar corpos de mortos na guerra.
São essas fossas que indicam a ocorrência dos principais genocídios, considerados crimes de guerra, que podem ser punidos por um tribunal internacional da ONU.
"Daremos todo o apoio que pudermos", disse o almirante americano Leighton Smith, o comandante das tropas da Otan.
Mas Smith disse que a Otan não iria promover segurança específica com soldados para essas fossas.
"Podemos sobrevoar e fotografar todos os lugares deste país", disse, sobre a possibilidade de usar aviões para vigiar os locais.

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