São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Dinheiro da diáspora pode ajudar novo país

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Os palestinos passaram a vida lutando contra Israel apenas para chegar a uma situação parecida com a que estava o Estado judeu há cerca de 50 anos.
"A grande ironia é que os palestinos estão fazendo agora o que os judeus fizeram quando se estabeleceram e construíram o Estado de Israel", diz Joel Kotkin, autor de um livro ("Tribos") sobre esse tipo de sociedades.
Como o Estado de Israel, o futuro Estado palestino vai depender da ajuda econômica de sua diáspora, os 2 milhões de palestinos espalhados pelo mundo.
Eles acumularam algo entre US$ 80 bilhões e US$ 120 bilhões, dos quais US$ 25 bilhões são em dinheiro vivo. Dá, no cálculo mais modesto, 26 vezes todo o PIB atual dos territórios autônomos (a soma das riquezas anualmente produzidas na região).
A dúvida é saber se os palestinos da diáspora cooperarão com o novo Estado tanto quanto os judeus o fizeram e ainda fazem em relação a Israel.
Há sinais animadores: Nadim Khouri, por exemplo, trouxe US$ 1,2 milhão para investir no mais improvável dos negócios no mundo árabe, em que o álcool é proibido pela crença religiosa islâmica.
Criou a Taybeh, cujo slogan é: "A mais saborosa cerveja do Oriente Médio".
Said Khouri, que não é parente de Nadim, trouxe ainda mais dinheiro (US$ 200 milhões). Tem um jato próprio (Challenger) e casas em cinco países.
Depois de 47 anos de exílio, voltou, aos 72, para criar a Companhia Palestina de Desenvolvimento e Investimentos.
A partir desses exemplos, o economista palestino George Abed, que trabalha no FMI (Fundo Monetário Internacional), prevê o ingresso de capitais no valor de US$ 1,5 bilhão nos próximos anos, a metade da atual riqueza do embrionário país.
Se o dinheiro de fato vier, o futuro país poderá enfrentar em melhores condições os problemas típicos do subdesenvolvimento, mas colidirá com um fenômeno que assusta outras nações do mundo.
Será o choque entre a economia tradicional e a sua globalização. Não será fácil entrar no ritmo da economia globalizada para um país em que a agricultura ainda representa 20% do PIB.
E no qual a tradição é de pequenas empresas familiares. Das 1.500 empresas que se estima sejam de proprietários palestinos, 1.400 empregam cinco pessoas ou menos. Só cem empregam entre 6 e 100 pessoas.
(CR)

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