São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Israel admite 'arquiterroristas'

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O governo de Israel está disposto a admitir a entrada nos territórios devolvidos aos palestinos de líderes considerados "arquiterroristas" para que possam participar da reunião do Conselho Nacional Palestino (CNP).
Só esse organismo pode autorizar a revogação das cláusulas da Carta palestina que exigem a destruição de Israel.
A revogação tem que se dar em dois meses, conforme prazo dado por Shimon Peres, o premiê israelense, a Iasser Arafat, sob pena de interromper as negociações para estabelecer o status final dos territórios palestinos e também a situação de Jerusalém.
Peres reiterou sábado, em telefonema a Arafat, a vigência do prazo, o que torna a reunião do CNP o mais próximo obstáculo a paz a ser removido.
Há cerca de cem membros do CNP que ainda vivem no exílio, entre eles os três principais líderes dos grupos laicos palestinos que rejeitam os acordos de paz (Frente de Rejeição) e que Israel rotula como "arquiterroristas".
São Abu al-Abba (Frente de Libertação da Palestina), Naif Hawatmeh (Frente Democrática para a Libertação da Palestina) e George Habash (Frente Popular pela Libertação da Palestina).
Os grupos fundamentalistas islâmicos não fazem parte do CNP.
Foi o próprio Peres quem disse ontem que a autorização "teoricamente inclui todos".
Para alterar a Carta, é preciso o voto favorável de 2/3 dos membros do CNP, que hoje totalizam 540. A eles se somarão os 88 integrantes do Conselho de Autonomia, eleito no sábado.
Peres não quer dar a Arafat a desculpa de que a proibição de entrada dos ainda exilados impede que o CNP se reúna no prazo fixado pelo premiê israelense.
Mas o major-general Shahor, coordenador das atividades nos territórios, foi menos incisivo a respeito de uma autorização abrangente. Disse que, se os membros da Frente de Rejeição quiserem retornar, "cada caso será discutido por seus próprios méritos".
Salim Zaanoun, um dos principais líderes do CNP, acha que o fato de os 88 parlamentares eleitos sábado se integrarem ao Conselho tornará mais fácil atingir-se os 2/3.
Afinal, todos os candidatos eram favoráveis ao processo de paz, ainda que houvesse divergências sobre aspectos pontuais.
Mas Hanan Ashrawi, candidata por Jerusalém Oriental e que foi porta-voz da delegação palestina nas primeiras negociações com Israel em Madri (1991), acha que "os 2/3 não podem ser dados como assegurados".
Outro candidato, Abu Khaled Laham, tido como do círculo íntimo de Arafat, também tem dúvidas, em especial quanto ao prazo.
"É impossível mudar as tradições do povo palestino em dois meses", diz Laham.
Em todo o caso, a pressão americana pode fazer com que tradições desabem muito rapidamente.
Na sua visita da semana passada a Arafat, o vice-presidente dos EUA, Al Gore, disse que enfatizou a "importância de contínuos esforços da Autoridade Palestina para emendar a Constituição".
(CR)

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