São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Brasil-EUA: notáveis realizações em 1995

MELVYN LEVITSKY

"Annus mirabilis": 1995 foi, sem dúvida, um "ano notável" para as relações entre os EUA e o Brasil. Podemos dizer que o ano começou em dezembro de 1994 com a Cúpula das Américas em Miami. Essa reunião dos líderes dos 34 países democráticos do hemisfério, com seu grandioso plano de ação econômico, social e político, serviu de base para um ano inteiro de crescente cooperação em nosso hemisfério e, particularmente, entre nossos dois países.
É claro que as relações Brasil-EUA não melhoraram de repente. Trata-se de um longo processo, que se iniciou com a restauração do Estado democrático e civil no Brasil. Nossos governos e presidentes têm-se esforçado e apoiado esse notável progresso em nossas relações porque isso representa benefícios para os dois países e seus povos.
Quero mencionar especialmente os esforços do presidente Fernando Henrique. Por ter morado e lecionado nos EUA, o presidente Cardoso conhece e entende muito bem nosso país e os americanos. E tem sido capaz de colocar esse entendimento a serviço da promoção de nossos interesses comuns nas áreas comercial, de segurança, ciência e tecnologia e meio ambiente.
O presidente Cardoso não adquiriu por acaso esse conhecimento sobre os EUA. Na metade da década de 1980 tanto ele como a senhora Ruth Cardoso participaram do programa de bolsas de estudo da Comissão Fulbright. Desde 1957, 2.148 brasileiros e 1.218 americanos foram bolsistas desse programa de intercâmbio educacional, que ora celebra seu quinquagésimo aniversário.
Como embaixador dos EUA no Brasil, pude testemunhar o vigor de nossas relações em 1995. Tivemos um constante ciclo de viagens de autoridades entre os dois países. A mais importante foi a visita do presidente Cardoso a Washington, em abril. Durante essa visita, ele e o presidente Clinton discutiram assuntos de extrema importância para os dois países e o mundo.
Posteriormente houve visitas de uma delegação do Congresso americano ao Brasil, liderada pelo congressista James Kolbe, seguida das do secretário de Comércio, Ron Brown, do de Defesa, William Perry, do chefe do Estado-Maior, John Shalikashvili, do secretário do Tesouro, Robert Rubin e da primeira-dama, Hillary Clinton. Do lado brasileiro vale citar a visita do ministro Lampréia, das Relações Exteriores, a Washington, ocasião em que passou um dia em consultas com o secretário de Estado Christopher e outros membros do gabinete.
O ano também apresentou um crescimento sem precedentes no número de viagens de brasileiros aos EUA -tanto para turismo como para negócios-, o que, infelizmente, também produziu certas dificuldades na emissão de vistos.
Estou certo de que nossa decisão de emitir vistos múltiplos para dez anos para a maior parte dos brasileiros trará uma sensível diferença. Estamos simplificando e reformulando nosso processo de emissão de vistos e examinando alternativas para nossos procedimentos atuais. Este ano esperamos diminuir falhas e dar atendimento mais rápido e eficiente aos que nos procurarem.
Encerramos o ano em novembro com a visita ao Brasil do subsecretário de Estado, Timothy Wirth, responsável pelos chamados "assuntos globais", ou seja: meio ambiente, narcóticos, espaço, ciência e tecnologia. O sr. Wirth tomou conhecimento de uma excelente série de fatos a respeito da cooperação entre os EUA e o Brasil nessas áreas.
Por exemplo: 70 cientistas espaciais brasileiros e americanos realizaram experimentos em série sobre mudanças climáticas. Uma aeronave americana ER-2 realizou mais de 20 missões para coletar dados sobre fumaça, nuvens e emanações radioativas de mais de 150 mil incêndios nas planícies e cerrado brasileiros. Tal informação ajudará o governo a formular políticas para proteger a região amazônica e permitirá que cientistas dos dois países avaliem os desafios ambientais desses incêndios.
A Usaid, agência americana para desenvolvimento internacional, investiu US$ 15 milhões nos últimos cinco anos junto a organizações não-governamentais brasileiras, em programas de parcerias contra a devastação de florestas. A Agenda Comum para o Meio Ambiente, assinada em novembro, deve conduzir-nos a uma cooperação mais significativa nessa área vital.
O abuso de narcóticos é outro dos assuntos globais que preocupam os EUA e o Brasil. 1995 assistiu a um progresso real em nossa parceria contra os narcotraficantes. As apreensões feitas pela Polícia Federal brasileira também aumentaram. O governo dos EUA ajudou em algumas dessas investigações e forneceu apoio financeiro da ordem de US$ 780 mil. Além disso, os EUA trabalharam com o Brasil nas áreas de controle de produtos químicos, lavagem de dinheiro e legislação antidrogas.
Eu seria omisso se não me referisse à revisão de nossas relações comerciais bilaterais. Os resultados alcançados pelo Brasil no controle da inflação sob o Plano Real foram notáveis. O Departamento de Comércio dos EUA tem feito todo o esforço para conscientizar nossos empresários das oportunidades de investimento no Brasil. Os investidores americanos estão observando de forma positiva e interessada o processo de reforma constitucional e econômica e a abertura de mercado.
Com base nos fatos apresentados acima, podemos dizer que 1995 foi um ano cheio de realizações para as relações Brasil-EUA. Vamos trabalhar para conseguir o mesmo em 1996.

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