São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Incoerência

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - Os partidos aliados andam divulgando uma versão que não está agradando nem um pouco a equipe econômica: o presidente Fernando Henrique Cardoso estaria prometendo a liberação de verbas para fortalecer ministros. Tudo em nome de contornar insatisfações na base governista.
O PMDB, por exemplo, depois de um almoço no Palácio da Alvorada, saiu anunciando que o presidente havia prometido liberar mais verbas para o Ministério dos Transportes. Quem comanda a pasta é o peemedebista Odacir Klein, que anda reclamando da falta de dinheiro.
É verdade que até agora ninguém no governo confirmou oficialmente a decisão de abrir os cofres para políticos descontentes. Mas também não houve nenhum desmentido. No mínimo, fica uma dúvida no ar e uma ameaça à volta do equilíbrio nas contas públicas, fundamental para a consolidação do Plano Real.
Os ministros José Serra (Planejamento) e Pedro Malan (Fazenda) já sabem que não vão conseguir acabar com os rombos no setor público. Em 96, a meta era de pelo menos reduzir o tamanho do buraco. Se o Palácio do Planalto decidir realmente barganhar verbas por apoio no Congresso, o rombo no Orçamento pode é aumentar.
Para desespero da equipe econômica, o Legislativo sinalizou na semana passada que não deve aprovar alguns de seus projetos que aumentam a arrecadação federal.
O governo foi derrotado na intenção de cobrar contribuição de inativos da Previdência, deve ficar sem a CMF -o novo imposto sobre cheques- e poderá perder uma parte do Fundo de Estabilização Fiscal. Tudo isso dá uma perda de R$ 7,2 bilhões em 96, dinheiro considerável se comparado com os R$ 8 bilhões que o Orçamento deste ano destina para investimentos.
Ou seja, além de pedir mais verbas para seus ministros, os parlamentares negam ao governo ampliar a sua receita. Uma grande incoerência, que pode custar caro para a sociedade: a volta da inflação.
Mas, como o ano é de eleição municipal, parece que os políticos estão interessados apenas em obter mais poder. Cabe ao governo FHC evitar que cenas do passados se repitam. Mesmo que isso signifique sacrificar planos futuros, como a reeleição.

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