São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Píer da praça Mauá abriga peça de Ibsen

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A encenação da peça "A Dama do Mar", do dramaturgo Henrik Ibsen (1828-1906), tem tudo para ser um marco na vida cultural do Rio. Um teatro com vista para a baía de Guanabara está sendo montado no píer da praça Mauá.
A inusitada apresentação, que estréia em 18 de outubro, surgiu da cabeça do premiado diretor Ulysses Cruz, 42. Idéia aceita imediatamente pela produtora e atriz do espetáculo, Christiana Guinle, 30.
"A maluca topou fazer aqui", diz Cruz, rindo, ao lado de Christiana.
A maluquice não é pouca. Um teatro de 400 lugares está sendo montado na ponta do píer que, por 40 anos, movimentou a vida do cais do porto do Rio, no centro.
Desativado desde 93, o píer é o coração do projeto da Companhia Docas do Rio de conceder à iniciativa privada o direito de construir e explorar um complexo comercial, com shopping center, hotel, pólo empresarial e centro cultural.
Para a direção da companhia, a encenação de "A Dama do Mar" nesse teatro provisório caiu como uma luva, pois permitirá à população vislumbrar a potencialidade econômica e cultural do projeto.
Para os que gostam de teatro, a encenação será uma oportunidade ímpar de se assistir à primeira montagem brasileira dessa peça do ciclo simbolista de Ibsen, que oscila entre o real e o fantástico.
O teatro com vista para o mar está sendo construído na ponta dos 38,5 mil m2 do chamado píer Mauá, que avança 600 metros mar adentro. Em uma das quinas do píer, o teatro ocupa 730 m2 de área coberta com telhas de amianto.
Só de ferro -para "cravar" o teatro no duro concreto do píer e montar toda a estrutura do teatro- são 25 toneladas. O palco triangular tem 10 metros de profundidade e 18 metros de boca de cena.
Trinta toneladas de areia de dunas, 200 estrelas marinhas, vários metros de cordas de navio e cerâmicas da artista plástica Sara Carone compõem o cenário do espetáculo. Haverá água escorrendo pelo telhado, para simular chuva.
Ao lado do teatro, sob uma tenda, será montado um bar com 20 mesas, servindo frutos do mar. O píer, iluminado por três torres com 12 mil watts de força, abrigará estacionamento gratuito para 350 carros.
Mas tem mais. Para os espetáculos vespertinos, o público poderá escolher, para chegar ao píer, um passeio de barco pela baía com duração de menos de 30 minutos, saindo da marina da Glória, no aterro do Flamengo (zona sul).
Para Cruz, todos esses elementos ajudarão a atrair público para esse clássico da dramaturgia internacional. "O clássico em geral é visto como chato. Mas não é o caso dessa peça", garante o diretor.
A produção só pôde ser viabilizada, segundo Christiana, graças ao apoio de empresas. Em dinheiro vivo, diz ela, serão consumidos cerca de R$ 200 mil. Mas se forem computados os apoios de empresas que cederam materiais diversos e serviços, a produção giraria em torno de R$ 500 mil.
Para a montagem, a produtora se cercou de nomes premiados, como o iluminador Maneco Quinderé e a coreógrafa Deborah Colker.
O elenco é formado por Christiana Guinle (Élida), Tereza Seiblitz (Bolette), Paloma Duarte (Hilde), Murilo Elno (o estrangeiro), Hélio Cícero (Wangel), Floriano Peixoto (Amholm) e Felipe Martins (Lyngstrand).

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