São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Senadores tentam abrir investigação sobre operação de Pitta na prefeitura

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Os senadores Gilberto Miranda (sem partido-AM) e Eduardo Suplicy (PT-SP) tentam ressuscitar o caso da compra e venda de títulos municipais que assombrou a campanha de Celso Pitta (PPB) na reta final da eleição paulistana.
Idêntica iniciativa está sendo tomada na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo líder do governo Mário Covas (PSDB), deputado Walter Feldman, que foi o coordenador de mobilização da campanha derrotada de José Serra.
Gilberto Miranda, que acaba de deixar o PMDB, quer que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, da qual é presidente, convoque o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, para prestar esclarecimentos sobre as operações praticadas por Pitta quando secretário municipal das Finanças.
Suplicy, por sua vez, apresentou a Miranda um requerimento com oito perguntas ao ministro da Fazenda, superior hierárquico do Banco Central, sobre as mesmas operações.
Uma das perguntas preparadas pelo senador diz respeito à compra pela prefeitura, junto à corretora carioca Contrato, de títulos no valor de cerca de R$ 53,5 milhões, vendidos, no mesmo dia e à mesma corretora, por apenas R$ 51,7 milhões.
A operação teria dado um prejuízo, portanto, de quase R$ 1,8 milhão aos cofres municipais. Essa operação, entre outras, foi usada no horário gratuito pelos adversários de Pitta.
O candidato do prefeito Paulo Maluf ganhou direito de resposta, utilizado já após o encerramento do período normal de horário gratuito.
As iniciativas de Gilberto Miranda e Suplicy tendem a provocar o ressurgimento do tema para a disputa do segundo turno.
Apurar e punir
Ainda mais que o líder do governo Covas está encaminhando requerimento ao presidente da Assembléia Legislativa para que solicite à corretora Banespa, intermediária das operações, informações sobre elas.
Feldman pede também que o procurador-geral de Justiça, Luiz Antônio Marrey, "apure e puna o responsável pelas operações, no caso o senhor Celso Pitta, candidato à Prefeitura de São Paulo".
É óbvio que o petista Suplicy e o tucano Feldman atuam com um olho nos possíveis efeitos eleitorais de uma investigação.
O que não fica claro é por que também age assim Gilberto Miranda, em vias de ingressar no PFL, partido que faz parte da coligação malufista em São Paulo.
À Folha, Miranda disse que seu único intuito é de "preservar a Comissão de Assuntos Econômicos, por ser uma das duas mais importantes do Senado" (a outra é a de Constituição e Justiça).
Como o Senado é que autoriza operações do tipo cuja investigação está sendo solicitada, Miranda diz que "não pode sair uma notícia como essa sem que seja averiguada". Mas ele próprio admite que o caso dos títulos municipais tende "a tomar uma proporção muito grande".
Antes mesmo que prosperem iniciativas para investigá-lo, já tem um efeito colateral: ficou nítida ontem, no Senado, a má vontade das lideranças governistas em colaborar para que sejam levadas avante.
Parece um indício objetivo de que o governo federal não vai contribuir em nada para prejudicar, ainda que eventualmente, a candidatura Pitta e, por extensão, desagradar seu padrinho político, o prefeito Paulo Maluf.

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