São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Forças Armadas não combaterão tráfico

RUI NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A BARILOCHE

No Brasil, está decidido: as Forças Armadas não entram no combate direto ao narcotráfico e a decisão do governo FHC é fortalecer a PF (Polícia Federal) e convocar o setor de inteligência da Receita Federal para investigar as operações de lavagem de dinheiro relacionadas com as drogas.
A pressão dos EUA para que os países latino-americanos usem suas Forças Armadas no combate direto ao tráfico é considerada, pelo Brasil, assunto superado.
"Essa área (o combate ao narcotráfico) tem um alto poder de contaminação", disse ontem o ministro-chefe do Emfa (Estado-Maior das Forças Armadas), general Benedito Leonel. "Além disso, os Estados Unidos também não usam as suas Forças Armadas no combate direto ao narcotráfico."
A SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), do ministro Ronaldo Sardenberg, está assessorando o Ministério da Justiça, de Nelson Jobim, a coordenar o plano de recuperação e reequipamento da PF, para torná-la mais eficiente.
"Na PF serão investidos cerca de US$ 500 milhões. É claro que é um investimento ao longo do tempo, mas isso (o reforço da PF) já está decidido", disse Sardenberg.
A Folha apurou que, em 95, o governo chegou a debater internamente se a PF era um organismo contaminado pela corrupção, a ponto de ter de se criar uma nova polícia, sob comando das Forças Armadas, para fazer apenas a vigilância de fronteiras, controle de portos e aeroportos e combate ao tráfico de drogas.
O debate não proliferou porque o Exército foi contra o uso de soldados para esse fim e alegou que o serviço era incompatível com a rotatividade dos militares. A rotatividade é parte da técnica militar "anticontaminação" -ninguém fica muito tempo no mesmo cargo.
Além de órgãos tradicionais, como o Banco Mundial, o Brasil procura ajuda junto à União Européia para a PF. Só em equipamentos, ela recebeu, em 95 e 96, cerca de US$ 2 milhões da Alemanha.
Para Leonel, entregar o combate direto do narcotráfico às Forças Armadas seria o mesmo que "decretar a falência da instituição encarregada desse trabalho (a PF) -e, contaminados, os militares não poderiam cumprir as suas obrigações constitucionais".
Segundo o ministro-chefe do Emfa, a questão do narcotráfico no Brasil é um assunto da política de segurança e não da política de defesa. O que pode acontecer, afirmou, é o setor da defesa ser solicitado a dar apoio à segurança.
"Nesse caso, podemos realizar operações em que as Forças Armadas assumam um papel de coordenador e forneçam apoio logístico. Dependendo dos locais, podemos fornecer transportes, envolver o setor de comunicações", disse.

Texto Anterior: Senadores tentam abrir investigação sobre operação de Pitta na prefeitura
Próximo Texto: Chile defende compras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.