São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Negócio ostensivo

JANIO DE FREITAS

O apoio do ministro de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos, não precisava, obviamente, do espetáculo público de sua visita e dos abraços circenses a Paulo Maluf. Uma entrevista ou uma nota seria o normal, e mais do que suficiente, para quem estivesse manifestando só uma posição pessoal, e não de governo nem de partido, como foi dito. Mas Luiz Carlos Santos não estava apenas "autorizado pelo presidente" a dar o apoio.
Um espetáculo daqueles só acontece se deliberado, o que se torna definitivamente inquestionável quando jornalistas são avisados do acontecimento pelo próprio visitante. E Luiz Carlos Santos, por tudo o que já mostrou de si como político e como temperamento, jamais iria tão longe com uma atitude pessoal. Havia, portanto, a intenção de que o apoio levado pelo ministro de Assuntos Políticos (e logo este) fosse o mais ostensivo.
Além disso, se a questão era apenas eleitoral, sem barganhas e fisiologismos em torno do projeto de reeleição, por que o ministro de Assuntos Políticos iria manifestar o apoio a Paulo Maluf e não ao próprio candidato, como sempre foi feito em todos os apoios eleitorais? Na recusa a procurar Celso Pitta há até uma exibição de desprezo justamente ao merecedor do apoio, o que é um contra-senso, embora coerente com a finura presidencial. Mas há, sobretudo, a confissão implícita de que a eleição é o de menos, o que interessa é o negócio da reeleição com Maluf.
O governador Mário Covas já havia lançado, no domingo, uma frase de quem já estava informado, se não sondado para aderir, da barganha entre Fernando Henrique e Maluf: "Apoiar o candidato do Maluf para que ele apóie a tese da reeleição é o que eu chamo de incoerência. Isso é o que eu não sei fazer". É verdade, nunca se viu Mário Covas, como toda pessoa dotada de caráter, fazer o que ele prefere chamar de incoerência. E que todos sabemos ser outra coisa.
O outro negócio
O edital de privatização da Vale do Rio Doce não será mais publicado agora, como estava programado. Em seu lugar será publicada a decisão do Conselho Nacional de Desestatização: o edital só será publicado 60 dias antes da venda da empresa. Ou seja, lá por dezembro.
É o que se pode chamar de efeito segundo turno. Com margem muito mais ampla para negócios ainda mais amplos.
Ah, se um dia houvesse a CPI das Privatizações, a escala Richter seria pequena para medir o terremoto.

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