São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Geração de emprego

ANTONIO DELFIM NETTO

A excelente 'Revista do BNDES' nº 5, de junho de 1996, incorpora um importante artigo das economistas Sheila Najberg e Solange Paiva Vieira que trata de "modelos de geração de emprego aplicados à economia brasileira" no período 1985/95.
A idéia é procurar, por meio de uma engenhosa utilização de um método sofisticado, combinado com estatísticas disponíveis (nem todas de igual qualidade), quais são os setores da economia brasileira que produzem uma maior resposta produtiva e uma maior resposta de emprego ao mesmo estímulo setorial de demanda.
Para fazer isso a economia foi dividida em 42 setores (os setores da matriz insumo-produto de 1985) e estimou-se a resposta do emprego de cada setor a um estímulo de demanda de R$ 1 milhão valorizado aos preços de 1995. Como a matriz registra a inter-relação entre os setores, o número de empregos calculado não é apenas o que se registra diretamente no setor, mas também os gerados pela influência da expansão do setor sobre todos os outros.
Por exemplo, para produzir um sapato utiliza-se couro, tanino, linha de costurar, cola, pregos etc., cada um deles exigindo um certo número de trabalhadores que se expandem, por sua vez, para as matérias-primas utilizadas em cada um deles: por exemplo, o aço usado no prego e assim por diante... Para simplificar o cálculo, entretanto, divide-se a economia em apenas 42 setores.
Os resultados são muito informativos. Um aumento de demanda de R$ 1 milhão no setor de produção de sapatos, por exemplo, geraria 247 empregos em 1995, ou seja, cada R$ 4.000 de demanda geraria um emprego.
Para saber qual a atividade que cria maior energia nos outros setores, as autoras constroem, com a mesma matriz, um indicador da interligação "para trás", que mostra o montante de demanda criada pelo setor sob estudo nos outros que lhe são fornecedores.
Como é evidente, não há nenhuma necessidade de que os setores que geram mais emprego sejam também aqueles que têm maior poder multiplicador produtivo.
A interessante questão colocada no artigo é a seguinte: quais as atividades que, ao mesmo tempo, geram mais emprego e têm maior poder multiplicativo? A sua resposta é clara e simples: "Há um pequeno conjunto de setores, compostos pelas atividades de agroindústria, madeira e mobiliário, artigos de vestuário e fabricação de calçados que, simultaneamente, aceleram o desenvolvimento econômico e geram emprego".
Há alguns outros que estão no limiar dessa classificação: o de minerais não-metálicos, papel celulose e o têxtil.
O fato que nos parece relevante é que um bom número desses setores foram justamente os mais adversamente atingidos pela sobrevalorização cambial somada à irresponsável redução tarifária unilateral, aos absurdos juros reais e à ausência completa de financiamento. A desorganização desse setores ajuda a explicar por que murcharam as forças geradoras de emprego e desenvolvimento.
US$ 1 bilhão de aumento de exportação de têxteis e sapatos, por exemplo, geraria perto de 200 mil empregos, um pouco menor que o montante dispensado pela indústria paulista em 1996!

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