São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Novas drogas anti-Aids causam otimismo

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na revista "Time" de 8 de julho passado, Christine Gorman retrata o ambiente de grande otimismo durante os preparativos e a realização da 11ª Conferência Internacional de Aids em Vancouver (Canadá). Explica esse clima de euforia de especialistas e pacientes pelos rápidos progressos ultimamente ocorridos no planejamento, produção e autorização de novos remédios contra o vírus da Aids.
A essa causa uma outra se acrescentou: a introdução da politerapia ou terapia de combinação, que consiste em atacar o HIV simultaneamente com muitas drogas, de maneira que umas drogas complementem a ação de outras.
O especialista David Ho, um dos mais ardorosos apóstolos da nova terapia, chega a falar em erradicação do HIV.
A história dessas conquistas é simples, embora tenha sido muito difícil abrir os caminhos. O primeiro produto anti-HIV autorizado e usado foi o AZT o qual, todavia, desperta com o tempo no vírus mutação que implica resistência à droga.
Veio a seguir o 3TC, que completa a atividade do AZT e pode agir quando o outro já esbarra na resistência. Fato curioso, se nessas condições o 3TC também se torna incapaz em face da resistência, a que se notava no AZT desaparece.
Dois remédios combinados abalam certamente o vírus, mas para nocauteá-lo são necessárias pelo menos três drogas, segundo a teoria. Felizmente surgiu o saquinavir, um dos chamados inibidores de protease.
Essa droga atua em ponto estratégico do ciclo biológico do vírus e o liquida, em combinação com outras drogas.
As primeiras aplicações da terapia de combinação foram feitas em doentes que se achavam em estado muito grave e em geral não haviam respondido ao tratamento.
Mas alguns pacientes reagiram favoravelmente e trouxeram renovadas esperanças.
Diante desse fato, Ho aplicou a combinação de drogas em pacientes que haviam recentemente sido infectados.
Suas esperanças se confirmaram. Em pouco tempo o vírus desapareceu do corpo dos doentes, que passaram a ser negativos nas provas de detecção.
Planejou Ho fazer biópsias desses pacientes e observar se o vírus por acaso havia se escondido nos gânglios linfáticos, enganando os experimentadores.
Se os gânglios estiverem isentos de vírus, Ho imagina suspender todo o tratamento contra ele e ver o que acontece. Isto é, verificar se os infectados ficam completamente sãos.
Caso o vírus se mostre presente, ele terá de experimentar a adição de novos remédios.
As esperanças de sucesso são muitas. Para a felicidade de todos os pacientes e talvez para atingir a grande meta de Ho -a erradicação do vírus por meio da terapia de combinação.

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